sábado, 30 de agosto de 2008

Cumpriu sua sentença, encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é
a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.


Ariano Suassuna

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Zara

Feliz de quem passou, por entre mágoa
E as paixões da existência tumultuosa,
Inconsciente, como passa a rosa.
E leve como a sombra sobre a água.

Era-te a vida um sonho, indefinido
E tênue, mas suave e transparente...
Acordaste... sorriste... e vagamente
Continuaste o sonho interrompido



Antero de Quental


(Raios de Extinta Luz e Outras Poesias, Lisboa, Couto Martins, 1948, p.233)

domingo, 17 de agosto de 2008

"Quando nos separamos, cada um sente falta de uma metade de si mesmo. Ficamos incompletos como um livro em dois volumes sendo que o primeiro foi perdido. É assim que eu imagino que o amor deve ser: a INCOMPLETUDE NA AUSÊNCIA."

(filme "Protegida por um anjo")

sábado, 16 de agosto de 2008

- Você está de novo esvoaçando?
- Sim. Mas desta vez sei para onde vou.
Ah! Estava bem arranjada se pretendia ter as primícias do segredo de meu estado de alma! O que se passava em mim era tão complicado que nem mesmo o silêncio e a escuridão me pareciam confidentes bastante discretos.

A perspectiva de um casamento com ele fazia surgir em mim a comparação de um navio carregado de ouro e sedas preciosas, que naufragasse estupidamente, sem motivo, num mar manso, num dia de calmaria.....



Não tinha vontade de rir, nem de me mexer, nem de me sentir viver, sentia o que devem sentir as pessoas nervosas na véspera de uma catástrofe: uma angústia muda, alguma coisa nova na minha vida, que me amedrontava e proporcionava uma vaga alegria. Tinha bem certeza de não amar..., não tinha bem certeza de que ele me amasse, mas aceitava sem revolta a perspectiva inevitável de me tornar sua mulher, mesmo com a certeza de que agindo assim renunciaria todos os meus sonhos de felicidade.
Ah! meus sonhos... como se tornaram estranhos de repente. O romance, a grande paixão! de que era feito isso tudo? Um pedaço de nevoeiro que se dissipa com o calor do dia...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Luís Vaz de Camões

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que, em vivo ardor, tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio,
O mundo todo abarco, e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio;
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Num'hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar um'hora.

Se me pergunta alguém, porque assi ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.


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Victor Hugo

Laisse-toi donc aimer!
Oh! l'amour c'est la vie
C'est tout ce qu'on regrette et tout ce qu'on envie,

Quand on voit sa jeunesse au couchant décliner.
............................................
La beauté c'est le front, l'amour c'est la couronne,
Laisse-toi couronner!

[Victor Hugo]




Deixe-se então amar!
Oh! O amor é a vida

É tudo que se lamenta e tudo que se deseja,

Quando se vê sua juventude declinar repousante.
............................................
A beleza está à frente, o amor é a coroa,

Deixe-se coroar!