quinta-feira, 29 de maio de 2008

"Não me faça nem um favor.
Não espere nada de mim.
Não me fale seja o que for.
Sinto muito que seja assim.


Como se fizesse diferença o que você acha ruim.
Como se eu tivesse prometido alguma coisa pra você.
Eu nunca disse que faria o que é direito,
não se conserta o que já nasce com defeito.

Não tem jeito não há nada a se fazer
Mesmo que eu pudesse controlar a minha raiva,
mesmo que eu quisesse conviver com a minha dor,
nada sairia do lugar que já estava
não seria nada diferente do que sou.


Não quero que me veja
Não quero que me chame
Não quero que me diga
Não quero que reclame".




poema estranho que apareceu para mim através de algo bem estranho.
gosto de coisas estranhas.
gosto da diversidade estranha.

Adoraria colocar seu autor, mas ele também me é estranho.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

100 leis de Murphy

1. Um atalho é sempre a distância mais longa entre dois pontos.
2. A beleza está à flor da pele, mas a feiúra vai até o osso!
3. Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.
4. Tudo leva mais tempo do que todo o tempo que você tem disponível.
5. Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.
6. Se você perceber que uma coisa pode dar errada de 4 maneiras e conseguir driblá-las, uma quinta surgirá do nada.
7. Seja qual for o resultado, haverá sempre alguém para: a) interpretá-lo mal. b) falsificá-lo. c) dizer que já tinha previsto tudo em seu último relatório.
8. Quando um trabalho é mal feito, qualquer tentativa de melhorá-lo piora.
9. Acontecimentos infelizes sempre ocorrem em série.
10. Toda vez que se menciona alguma coisa: se é bom, acaba; se é mau, acontece.
11. Em qualquer fórmula, as constantes (especialmente as registradas nos manuais de engenharia) deverão ser consideradas variáveis.
12. As peças que exigem maior manutenção ficarão no local mais inacessível do aparelho.
13. Se você tem alguma coisa há muito tempo, pode jogar fora. Se você joga fora alguma coisa que tem há muito tempo, vai precisar dela logo, logo.
14. O modo mais rápido de se encontrar uma coisa é procurar outra. Você sempre encontra aquilo que não está procurando.
15. Quando te ligam: a) se você tem caneta não tem papel. b) se tem papel não tem caneta. c) se tem ambos ninguém liga.
16. Não se chateie se a programação da TV lhe parece chata: amanhã será pior.
17. Entre dois acontecimentos prováveis, sempre acontece um improvável.
18. Quase tudo é mais fácil de enfiar do que de tirar.
19. Mesmo o objeto mais inanimado tem movimento suficiente para ficar na sua frente e provocar uma canelada.
20. Qualquer esforço para se agarrar um objeto em queda provocará mais destruição do que se deixássemos o objeto cair naturalmente.

21. A única falta que o juiz de futebol apita com absoluta certeza é aquela em que ele está absolutamente errado.
22. Por mais bem feito que seja o seu trabalho, o patrão sempre achará onde riscá-lo.
23. Nenhum patrão mantém um empregado que está certo o tempo todo.
24. Adiar é a forma mais perfeita de negar.
25. Quando político fala em corrupção, os verbos são sempre usados no passado.
26. Se você for esperar o motivo certo para fazer alguma coisa, nunca fará nada.
27. Os assuntos mais simples são aqueles sobre os quais você não entende nada.
28. Dois monólogos não fazem um diálogo.
29. Se você é capaz de distinguir entre o bom e o mau conselho, você não precisa de conselho.
30. Para o bom executivo, todas as regras foram feitas para serem rompidas sempre que necessário.
31. Crie uma praga e ofereça-se imediatamente como o salvador da lavoura.
32. Nunca avise que a declaração que vai fazer é importante.
33. Toda a idéia revolucionária provoca três estágios: 1º. 'é impossível - não perca meu tempo.' 2º. 'é possível, mas não vale o esforço' 3º. 'eu sempre disse que era uma boa idéia'
34. A informação que obriga a uma mudança radical no projeto sempre chega ao projetista depois do trabalho terminado, executado e funcionando maravilhosamente (também conhecida como síndrome do: "Caramba! Mas só agora!!!").
35. Um homem com um relógio sabe a hora certa. Um homem com dois relógios sabe apenas a média.
36. Só sabe a profundidade da poça quem cai nela.
37. Nada é impossível para quem não tem que fazer o trabalho.
38. Ciência exata é profetizar sobre o que já aconteceu.
39. Se há um trabalho difícil de ser feito, entregue-o a um preguiçoso. Ele descobrirá a maneira mais fácil de fazê-lo.
40. Quando se tem muito tempo para começar um trabalho, o primeiro esforço é mínimo. Quando o tempo se reduz a zero, o esforço beira as raias do infinito.
41. Nada jamais é executado dentro do prazo ou do orçamento.
42. As variáveis variam menos que as constantes.

43. Não é possível alcançar o total exato de qualquer soma com mais de dez parcelas depois das cinco horas da tarde de sexta-feira. O total exato será encontrado facilmente as 9:01 da manhã de segunda-feira.
44. Entregas de caminhão que normalmente levam um dia levarão cinco quando você depender da entrega.
45. Depois de acrescentar ao cronograma duas semanas para atrasos imprevisíveis, acrescente mais duas para atrasos previsíveis.
46. Assim que tiver esgotado todas as suas possibilidades e confessado seu fracasso, haverá uma solução simples e óbvia, claramente visível a qualquer outro idiota.
47. Qualquer programa quando começa a funcionar já está obsoleto.
48. Qualquer upgrade custa mais e leva mais tempo para aprender.
49. Só quando um programa já está sendo usado há seis meses, é que se descobre um erro fundamental.
50. Depois da linguagem cibernética, a linguagem mais falada pelos programadores é a obscena.
51. A ferramenta quando cai no chão sempre rola para o canto mais inacessível do aposento. A caminho do canto, a ferramenta acerta primeiro o seu dedão.
52. Só um idiota tem talento típico para plagiar outro idiota.
53. Guia prático para a ciência moderna: a) Se se mexe, pertence à biologia. b) Se fede, pertence à química. c) Se não funciona, pertence à física. d) Se ninguém entende, é matemática. e) Se não faz sentido, é economia ou psicologia. f) Se for um Caos total certamente é informática!
54. A diferença entre as leis de Murphy e as leis da natureza é que na natureza as coisas dão erradas sempre do mesmo jeito.
55. O número de exceções sempre ultrapassa o numero de regras. E há sempre exceções às exceções já estabelecidas.
56. Ninguém nunca está ouvindo, até você cometer um erro.
57. Qualquer coisa entre parênteses pode ser ignorada (com vantagem, como vê neste exemplo perfeitamente inútil).
58. Se o curso que você desejava fazer só tem n vagas, pode ter certeza de que você será o candidato n + 1 a tentar se matricular.

59. Oitenta por cento do exame final da sua prova da faculdade será baseada na única aula que você perdeu, baseada no único livro que você não leu.
60. Cada professor parte do pressuposto de que você não tem mais o que fazer, senão estudar a matéria dele.
61. A citação mais valiosa para a sua redação será aquela em que você não consegue lembrar o nome do autor.
62. Não há melhor momento do que hoje para deixar para amanhã o que você não vai fazer nunca.
63. A maioria dos trabalhos manuais exigem três mãos para serem executados.
64. As porcas que sobraram de um trabalho nunca se encaixam nos parafusos que também sobraram.
65. Quanto mais cuidadosamente você planejar um trabalho, maior será sua confusão mental quando algo der errado.
66. Os pontos de acesso a uma máquina serão sempre pequenos demais para a passagem das ferramentas, ou grandes para passagem delas, mas não suficiente para a passagem de sua mão quando elas caírem.
67. Em qualquer circuito eletrônico, o componente de vida mais curta será instalado no lugar de mais difícil acesso.
68. Qualquer desenho de circuito eletrônico deve conter pelo menos: uma peça obsoleta, duas impossíveis de encontrar, e três ainda sendo testadas (por você, é claro).
69. Na última hora o engenheiro industrial mudará os desenhos originais para incluir novos defeitos. E as modificações não serão mencionadas no manual de instruções, já impresso.
70. O tempo para executar uma tarefa é 3 vezes superior ao tempo inicialmente previsto. Se, ao calcular a duração da tarefa, multiplicarmos por 3 o tempo previsto de modo a obter o resultado correto, nesse caso, a tarefa demorará 9 vezes esse tempo.
71. Uma gravata limpa sempre atrai a sopa do dia.
72. Se está escrito "Tamanho único", é porque não serve em ninguém.
73. Se o sapato serve, é feio!
74. Nunca há horas suficientes em um dia, mas sempre há muitos dias antes do sábado.
75. Todo corpo mergulhado numa banheira faz tocar o telefone.
76. A informação mais necessária é sempre a menos disponível.

77. A probabilidade do pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete.
78. Gato sempre cai em pé. Não adianta amarrar o pão com manteiga nas costas do gato e o jogar no carpete. Provavelmente o gato comerá o pão antes de cair... em pé.
79. A fila do lado sempre anda mais rápido, até o momento em que você se mudar para ela. Então, a fila em que você estava vai andar mais rápido.
80. As coisas podem piorar, você é que não tem imaginação.
81. O material é danificado segundo a proporção direta do seu valor.
82. Se você está se sentindo bem, não se preocupe. Isso passa.
83. Lei de Murphy no ciclismo: não importa para onde você vai; é sempre morro acima e contra o vento.
84. Por mais tomadas que se tenham em casa, os móveis estão sempre na frente.
85. Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda, e o que não sai.
86. Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
87. Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral ou engorda.
88. Por que será que números errados nunca estão ocupados?
89. Mas você nunca vai usar todo esse espaço de Winchester!
90. Se você não está confuso, não está prestando atenção.
91. Na guerra, o inimigo ataca em duas ocasiões: quando ele está preparado, e quando você não está.
92. Lei de Murphy na escola: se for prova com consulta, você esquecerá seu livro; se for lição de casa, esquecerá onde mora.
93. Amigos vêm e se vão, inimigos se acumulam.
94. A Lei de Murphy é algo transcendente. Lavar o seu carro para fazer com que chova não funciona.
95. Um documento importante irá demonstrar sua importância quando, espontaneamente, ele se mover do lugar que você o deixou para o lugar onde você não irá encontrá-lo.
96. As crianças são incríveis. Em geral, elas repetem palavra por palavra aquilo que você não deveria ter dito.
97. Uma maneira de se parar um cavalo de corrida é apostar nele.
98. Toda partícula que voa sempre encontra um olho.
99. Sorria! Amanhã será pior
100. Um morro nunca desce.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Deixem a nossa ortografia em paz!

1 — Neste mar quase infinito em que se transformou a internet, às vezes é quase impossível descobrir a verdadeira origem das informações — e dos boatos — que chegam até nossa casa. Nas últimas semanas, muita gente recebeu um e-mail que anuncia, para o final deste ano, a chegada de uma tal "reforma da Língua Portuguesa". Uma jovem leitora, naturalmente preocupada com a educação de sua filhinha, que ainda está na pré-escola, pediu que eu comentasse a notícia, porque — diz ela — "eu preciso saber se isso vai ser bom ou ruim para a minha filha". Pois eu responderia, sem a menor hesitação, que esta catástrofe, se chegar a ocorrer, vai ser ruim para ela e para todos nós. Felizmente, como no caso do aquecimento global, há sempre a esperança de que o bom senso volte a prevalecer e consigamos evitar o desastre anunciado. Explico.


No mundo inteiro, o Português foi um dos poucos idiomas que editaram uma norma "oficial" para regular sua ortografia. A iniciativa é relativamente recente, pois até a 2ª Grande Guerra cada cidadão podia escrever como lhe dava na veneta, usando acentos, agás, ípsilons e letras mudas a seu bel-prazer. Esta situação absurda, impensável nos dias de hoje, felizmente terminou quando o Brasil e Portugal assinaram o Acordo de 1943, incentivado pelo nosso benigno ditador Getúlio Vargas como parte de seu esforço para modernizar o país. É este o texto que serve de base para aquele sistema que o brasileiro médio chama respeitosamente de "ortografia oficial", atribuindo-lhe uma infalibilidade maior que a do Papa, embora os estudiosos saibam que ele (o acordo, é claro) não é tão oficial nem tão infalível assim.


Em Portugal, discussões posteriores levaram a uma versão ligeiramente modificada desse acordo, transformada em lei por aquele país em 1945; o Brasil, no entanto, não quis acompanhá-lo, ficando mesmo com o texto de 1943 — o que naturalmente gerou algumas diferenças entre o sistema usado aqui e o sistema adotado por Portugal (e pelas colônias que, na época, estavam sob seu domínio). Abrimos um livro editado em Portugal e encontramos colecção, adopção, eléctrico, facto, subtil, sumptuoso; amámos, trabalhámos, fémur, bónus, António, sinónimo — onde, no Brasil, encontramos coleção, adoção, elétrico, fato, sutil, suntuoso; amamos, trabalhamos, fêmur, bônus, Antônio, sinônimo. Se isso nunca dissuadiu os bons leitores portugueses de ler publicações brasileiras (ou vice-versa), não há dúvida, por outro lado, de que essas diferenças constituem um fator perturbador para o leitor mais simples ou para o público infantil.


Talvez por isso (ou sob esse pretexto), surgiu, a partir da década de 80, um movimento messiânico para "unificar a língua portuguesa", agora incluindo os países lusófonos que haviam conquistado sua soberania, como Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, entre outros. Formaram-se grupos e comissões, redigiram-se propostas e cartas de intenção, fixaram-se projetos e anteprojetos sucessivos, com objeções de todos os lados, tentando chegar-se a essa "unificação", numa versão singularíssima da Torre de Babel que muito teria agradado a J. L. Borges por sua ironia: agora todos falam a mesma língua, mas defendem projetos completamente diferentes para o edifício que pretendem construir. Como em Babel, não haverá torre. O produto de todas essas idas e vindas foi uma colcha de retalhos que precisa, para entrar em vigor, da aprovação do Legislativo de todos os países participantes — o que, felizmente, não está sendo fácil de obter. Por um lado, porque alguns desconfiam de que o espírito oculto do Acordo seja apenas o de favorecer grandes grupos editoriais, que teriam assim um mercado muito maior; por outro, porque uma mudança na ortografia — seja qual for a sua amplitude — traz a imediata necessidade de substituir os livros das bibliotecas escolares de todo o país. A criança que está aprendendo a escrever no novo sistema não pode ficar em contato com publicações que utilizem o sistema antigo; a inevitável atualização das bibliotecas representaria um gasto pesado demais para todos, ou quase todos, os países lusófonos, que ainda enfrentam graves problemas estruturais.


Além disso, os termos do Acordo favoreceriam alguns países e prejudicariam outros — especialmente o Brasil. A meu ver, nós deveríamos ser os maiores interessados em "melar" essa irresponsável aventura, pois — se fosse aprovada a reforma — nós teremos de ceder muito mais que os outros, abandonando hábitos ortográficos já consolidados em nosso meio para contentar a pressão de Portugal e de suas antigas colônias, que, por razões históricas, estão claramente dentro da área de influência cultural lusitana.
2 — Felizmente, começamos a notar, de alguns anos para cá, uma nítida atitude protelatória dos principais países envolvidos, certamente ditada pela cautela e pela prudência; afinal, mudar os hábitos ortográficos, que acabam se tornando praticamente uma segunda natureza dos falantes de uma língua, é assunto sério demais para se ter pressa ou açodamento. Se os deuses ajudarem, a idéia vai ser posta, mais uma vez, em banho-maria, ficando a sua aprovação final para as calendas gregas — maneira elegante que os antigos usavam para denominar o nosso famoso dia de São Nunca.

Se, por desgraça, esta desnecessária reforma chegar a entrar em vigor, os brasileiros (mais) e os portugueses (menos) vão ter de mudar sua maneira de escrever. Antes de prosseguir, contudo, acho melhor mostrar aos meus leitores as modificações anunciadas. Primeiro, ela propõe que nosso alfabeto passe a incluir também as letras k, w e y. Isso muda alguma coisa? Não, porque seu uso obedecerá às mesmas regras de hoje: só nos símbolos científicos internacionais e nos vocábulos derivados de nomes próprios (shakespeariano, darwinista, keynesiano, etc.). A novidade é que, fazendo parte do alfabeto oficial, a escola deverá ensinar às crianças o lugar que essas três letras ocupam na ordem alfabética.
Outra área em que haveria inovação é a das chamadas consoantes mudas. Quanto a elas, nada seria alterado para os brasileiros. Elas permaneceriam nas palavras em que sempre foram pronunciadas, como em compacto, ficção, convicto, adepto, apto, eucalipto, núpcias, etc.; seriam consideradas facultativas nos vocábulos em que há divergência entre as normas cultas dos dois países (aspecto ou aspeto, dicção ou dição, facto ou fato, sector ou setor, ceptro ou cetro, corrupto ou corruto, recepção ou receção, amígdala ou amídala, amnistia ou anistia, sumptuoso ou suntuoso), aliás, como sempre aconteceu, numa convivência para lá de pacífica; finalmente, desapareceriam nas palavras em que são mudas — o que significa que Portugal e os países africanos teriam de eliminá-las de palavras como acção, afectivo, acto, director, exacto, adoptar, baptizar; no Brasil, elas não são usadas desde 1943.
Na acentuação é que o ônus da mudança é mais pesado para o Brasil, pois deixaríamos de aplicar algumas regras que Portugal já não adota há muito: (1) seriam eliminados os acentos que marcam o ditongo aberto em palavras como jóia, heróico, idéia, assembléia; (2) desapareceriam o trema e o acento agudo no U, depois de G e de Q, em palavras como sagüi, lingüiça, seqüestro, argúem, averigúem; (3) seria eliminado o acento circunflexo dos hiatos ÊE, ÔO (vêem, vôo, enjôo, relêem). Continuariam facultativos, como sempre, (1) o acento da 1ª pessoa do plural do pretérito perfeito (na pronúncia lusa, amámos e levámos, para distinguir de amamos e levamos, do presente do indicativo); (2) o acento agudo ou circunflexo sobre o E ou o O, nas palavras em que há divergência quanto ao timbre: acadêmico, académico; Antônio, António; Amazônia, Amazónia; fenômeno, fenómeno; gênio, génio; fênix, fénix; ônix, ónix; fêmur, fémur; sêmen, sémen; tênis, ténis; Vênus, Vénus; bônus, bónus; bebê, bebé; caratê, caraté; guichê, guiché; e muitas mais.
A meta obsessiva dos reformistas é diminuir ao máximo as diferenças entre Portugal e Brasil, cobrando de cada país sua taxa de sacrifício. Considerando a unificação gráfica do Português como um valor supremo — o que é perfeitamente discutível, se considerarmos o preço que se vai pagar por isso —, a reforma não hesita em limar aqui, aparar ali, lixar acolá, numa sucessão de "retoques" que parecem feitos por quem não é do ramo. Isso fica muito claro nas mudanças propostas para a acentuação, insignificantes para trazer uma verdadeira melhora no sistema, mas amplas o suficiente para perturbar a vida de todos nós — brasileiros, angolanos, portugueses, moçambicanos e os demais irmãos lusófonos.
Na verdade, deveríamos ou deixar tudo como está, ou eliminar o acento de uma vez por todas. Na primeira hipótese (a mais econômica), daremos ao sistema atual o tempo indispensável para sua maturação; o trabalho que começou em 1971 deve prosseguir por mais cem anos, no mínimo, quando então ele estará consolidado, infiltrado até mesmo no movimento da mão que traça as palavras, perfeitamente assimilado por brasileiros que já terão nascido dentro dele, sem ter conhecido o sistema de 1943 ou anteriores. A segunda hipótese é muito mais radical e trabalhosa, pois exigiria um grande esforço de todos os já alfabetizados, obrigando-os a evitar, no texto escrito, as armadilhas de interpretação que hoje o acento se encarrega de desfazer — mas projetaria um futuro muito mais simples para os netos de nossos netos, pois teriam muito maior facilidade em dominar o sistema ortográfico. Não duvido que custo fabuloso dessa mudança fosse compensado, a médio prazo, pela maior eficiência dos programas de alfabetização.
O que não tem cabimento é continuar usando acentuação mas mudar algumas regras em nome de uma unificação que é utópica e impossível, pois, considerando o grande número de formas facultativas que foram mantidas, os livros do Brasil e de Portugal continuarão a ser diferentes. Jamais um livro escolar editado aqui poderá ser utilizado no além-mar, e vice-versa. A unificação ortográfica, que era a razão de ser da reforma, cai como um castelo de cartas — sem falar nas incontornáveis diferenças lexicais entre um país que apregoa "berbequim para betão ao desbarato" de outro que anuncia "furadeira para concreto em oferta" — e estão falando da mesma coisa.

CHARLES CHAPLIN

"UM DIA SEM RIR, É UM DIA DESPERDIÇADO".
Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite. É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje. Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição. Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício. Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo. Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido. Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus. Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades. Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar. O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim.

terça-feira, 20 de maio de 2008

"A coisa mais injusta sobre a vida é como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente.Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo, ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante para poder aproveitar a sua aposentadoria.Aí curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando, e termina tudo num grande orgasmo. Não seria perfeito?"
"O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódios... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido."


[ The Great Dictator (O Grande Ditator), de 1941 ]

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Inutilidades (José Paulo Paes)


Ninguém coça as costas da cadeira.
Ninguém chupa a manga da camisa.
O piano jamais abana a cauda.
Tem asa, porém a xícara não voa.

De que serve o pé da mesa se não anda?
E a boca da calça se não fala nunca?
Nem sempre o botão está em sua casa.
O dente de alho não morde coisa alguma.

Ah! se trotassem os cavalos do motor ...
Ah! se fosse de circo o macaco do carro ...
Então a menina dos olhos comeria
Até bolo esportivo e bala de revólver.



sábado, 17 de maio de 2008

tu olhas, ora para mim,
ora para as nuvens
sinto que
estás tão longe quando olhas para mim
e tão perto quando olhas para as nuvens.

[Gu Cheng, poeta chinês]

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Surpreendido pela Alegria

"... mais desejável que qualquer outra satisfação. Chamo-o Alegria, que aqui é um termo técnico e precisa ser agudamente distinguido tanto da Felicidade quanto de Prazer.
Alegria (no sentido que dou à palavra) tem de fato uma característica, e uma só, em comum com os outros dois termos; o fato de que qualquer pessoa que já a vivenciou vai querer novamente senti-la. Fora isso, e analisada apenas por essa característica, pode quase igualmente ser considerada uma espécie particular de infelicidade ou pesar. Só que é do tipo que queremos. Duvido que qualquer um que a tenha experimentado vá trocá-la por todos os prazeres do mundo, se as duas opções estiverem ao seu alcance. Mas a Alegria nunca está ao nosso alcance, ao contrário, frequentemente, do prazer".
"Passávamos, eu e meu irmão, a depender cada vez mais exclusivamente um do outro para obter aquilo que tornava a vida suportável; a ter confiança só um no outro. Tudo aquilo que fazia daquela casa um lar agora nos faltava; tudo exceto nós mesmo, um para o outro. A cada dia ficávamos mais próximos (e esse foi o resultado positivo) - dois moleques assustados e apertados um contra o outro em busca de calor num mundo frio".
"Meu irmão começa a me mostrar o navio, e discorre sobre outras embarcações à vista. Ele já é um viajante experiente e um adolescente realmente vivido. Uma empolgação agradável e indefinível toma conta de mim. (...) Mais tarde, já recolhidos aos beliches, começa a ventar forte. A noite é tempestuosa, e meu irmão fica enjoado. Absurdamente, sinto inveja dele. Ele se comporta como devem fazer os viajantes experientes. Depois de grande esforço, consigo também vomitar; mas é um desempenho medíocre - eu era, como ainda o sou, um navegante teimosamente bom".


"Embora a amizade tenha sido de longe a fonte principal da minha felicidade, os contatos com conhecidos ou a sociedade em geral sempre significaram pouco para mim, e não consigo entender bem por que um homem deva desejar conhecer mais pessoas do que ele pode ter como amigos verdadeiros. Daí, também, um interesse bastante deficiente, talvez censuravelmente deficiente, em grandes causas e movimentos coletivos. O interesse que desperta em mim uma batalha (seja na ficção ou na realidade) é quase a razão inversa do número de combatentes".

[Surpreendido pela Alegria, C.S. Lewis]

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Coração de Letras

Gosto de nomes. De títulos. Ou sei lá quais os outros nomes ou títulos que se dá a títulos e nomes...
Acho interessante passar horas pensando naquilo que será o coração de alguma coisa. Porque para mim, títulos são corações. Se eles não são bons, o corpo pode até funcionar, mas, com certeza, não será a mesma coisa.
Me encontro por inúmeras vezes parada na frente da televisão, absorta, olhando pra tela e não vendo nada, apenas tentando imaginar qual o motivo do nome daquela novela ser escolhido para ser o nome da novela. A propósito, odeio títulos de novelas.
Gosto de ir a livrarias. Ando tempos e tempos circulando por elas. Só lendo títulos. A história, às vezes, é o que menos interessa. Porque as histórias eu mesma monto segundo os títulos que leio. O que seria de mim sem a imaginação. Provavelmente eu nem seja boa em escrever histórias, e também ninguém me julgará por elas, porque possivelmente nunca venha a escrevê-las. Até porque depois do terceiro título já esqueci as histórias anteriores.
Já me vi decepcionada com histórias. Títulos tão bons, histórias tão previsíveis. Ou o contrário, histórias boas e títulos ruins.
Toda vez que pego um livro para ler, fico pelo menos uns cinco a dez minutos lendo e relendo o nome do livro. Vou para a folha de rosto e leio mais uma vez o título. Leio o primeiro capítulo e fecho o livro para ler o nome mais uma vez. Às vezes, no meio do capítulo, paro a leitura para reler o nome do livro e saber se o que estou lendo tem a ver com o que acabei ler na capa do livro.
Acho que sou maníaca por títulos. Acho que tenho certeza.
Lendo Balzac e a Costureirinha Chinesa, de Dai Sijie, vi que o personagem principal não tinha nome. Depois de ler alguns capítulos, não suportei e tive que dar um nome para ele. Era caso de nome ou morte. Sérgio. Chamei-o Sérgio. Não me pergunte por quê. Na verdade, nem eu mesma sei. E pior que isso, tive de apresentar um seminário numa aula de pós-graduação sobre esse livro. Depois de dez minutos falando sobre o protagonista, não agüentei e pedi licença aos ouvintes para chamá-lo pelo nome que eu havia dado a ele. Me senti tão aliviada. Interessante foi a discussão dos outros alunos para entender a nomeação do personagem. Uma aluna até se levantou em meu favor dizendo para os demais: “Gente, ela quis chamar ele de Sérgio, então deixa ele ser Sérgio. Ele deve ter cara de Sérgio mesmo”...
Uma das minhas maiores decepções foi ter estudado Saussure e ver que os signos são arbitrários. É tão estranho uma árvore se chamar árvore porque... sim. Mas acho que é assim mesmo. Fico pensando se todas as pessoas fossem como eu. Se para cada nome que dessem a alguma coisa levassem tanto tempo, e mais tempo ainda para refletir se o nome dado é o apropriado. Possivelmente ainda estaríamos no Jardim do Éden, esperando Adão terminar de nomear os passarinhos.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

SEN.TI.SINTO
um
SEN.TI.MENTO
quando
SEN.TI.NELAS
o que
SEN.TI.MINTO
um
SEN.TI.MENTO
que
SEN.TI.SINTO
ou
SEN.TI.MINTO
mas o
SEN.TI.MENTO
que
SEN.TI.NELAS
,
SEN.TI.MINTO
o que
SEN.TI.SINTO
...
SEN.TI.MINTO
um
SEN.TI.MENTO
...
SEN.TI.MENTO
que
SEN.TI.MINTO