quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Eu vim aqui me buscar

Eu vim aqui me buscar. E aqui parecia ser longe, muito longe do lugar onde eu estava, o medo costuma ver as distâncias com lente de aumento. Vim aqui me buscar porque a insatisfação me perguntava incontáveis vezes o que eu iria fazer para transformá-la e chegou um momento em que eu não consegui mais lhe dizer simplesmente que eu não sabia. Vim aqui me buscar porque cansei de fazer de conta que eu não tinha nenhuma responsabilidade com relação ao padrão repetitivo da maioria das circunstâncias difíceis que eu vivenciava. Vim aqui me buscar porque a vida se tornou tediosa demais. Opaca demais. Cansativa demais. Encolhida.

Vim aqui me buscar porque, para onde quer que eu olhasse, eu não me encontrava. Porque sentia uma saudade tão grande que chegava a doer e, embora persistisse em acreditar que ela reclamava de outras ausências, a verdade é que o tempo inteirinho ela falava da minha falta de mim. Vim aqui me buscar porque percebi que estava muito distante e que a prioridade era eu me trazer de volta. Isso, se quisesse experimentar contentamento. Se quisesse criar espaço, depois de tanto aperto. Se quisesse sentir o conforto bom da leveza, depois de tanto peso suportado. Se quisesse crescer no amor.

Vim aqui me buscar, com medo e coragem. Com toda a entrega que me era possível. Com a humildade de quem descobre se conhecer menos do que supunha e com o claro propósito de se conhecer mais. Vim aqui me buscar para varrer entulhos. Passar a limpo alguns rascunhos. Resgatar o viço do olhar. Trocar de bem com a vida. Rir com Deus, outra vez. Vim aqui me buscar para não me contentar com a mesmice. Para dizer minhas flores. Para não me surpreender ao me flagrar feliz. Para ser parecida comigo. Para me sentir em casa, de novo.

Vim aqui me buscar. Aqui, no meu coração

Ana Jácomo



segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eu levo seu coração comigo



Eu levo seu coração comigo

(eu o levo no meu coração)

Eu nunca estou sem ele

(onde quer que eu vá você irá, minha querida;

e o que é feito só por mim é seu feito, minha amada)

Não temo o destino

(pois você é meu destino, meu encanto)

Não quero o mundo

(pela beleza de você ser meu mundo, minha verdade)

E você é tudo o que a lua sempre representou

E tudo que um sol irá louvar será você

Eis o maior segredo que ninguém conhece

(eis a raiz da raiz e o broto do broto

e o céu do céu de uma árvore chamada vida;

que cresce além do que a alma sonharia

ou a mente poderia esconder)

E este é o milagre que mantém as estrelas afastadas

Eu levo seu coração (eu o levo no meu coração)



[E.E. Commungs]

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

As coisas estão mudando de lugar... não sei bem onde estão e nem sei dizer se o lugar em que estão é o melhor.. apenas sei que gosto da forma que tudo está agora..
quero fazer o que nunca fiz, ter coragem como nunca tive, ser feliz como sempre quis..
quero parar de me impedir... quero perder o controle... me descabelar.. sair correndo em direção ao nada...
colocar uns quadros novos na parede.. comprar uma samambaia...
quem sabe eu me encontre. e encontre algo que realmente valha apena.

o que eu sei agora é que saudade é melhor que necessidade...
que viver é melhor que sonhar...
e que o amor é uma coisa boa.


queria ele aqui agora.
mas tudo bem se ele não vier hoje.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Vida na Porta da Geladeira

(Alice Kuipers)

"Se o seu mundo virasse de ponta-cabeça, você seria capaz de se apegar ao que realmente importa?"

"Quando olho pra você
Vejo a mulher que quero ser
Forte e corajosa
Linda e Independente

P.S.
Eu te amo."

"Meu coração está descompassado, como se tivesse um beija-flor preso aqui dentro."

"Quando a estrada virar
Estaremos juntas,
Fazendo a curva,
Apoiando-se
Uma na outra, como mãe
E filha,
E mãe.

A sra. Manda disse que o jornal da escola vai publicar o poema. Acho que quero ser escritora quando crescer."



"Tenho me sentido muito triste, muito assustada. O que fiz com a minha vida? Todos esses anos, sempre achei que devia lutar por meus sonhos, mas parece que esses anos ficaram para trás, que tive minha chance e que a desperdicei de alguma forma, que perdi o foco. Tenho você, minha garotinha – você deu sentido à minha vida, deu mais alegria do que qualquer coisa. Mas e quanto a todas as coisas que eu queria fazer? Nunca fui à África. Nunca li Proust. Nunca aprendi a tocar piano ou a ler partituras – aquelas manchinhas pretas no papel que as pessoas traduzem em sons lindíssimos são um mistério para mim, talvez nunca o desvende. Nunca pulei de paraquedas, nunca vi o deserto, nunca fui pescar.

Sei que nem tudo está perdido e que há esperança, mas tenho que pensar no que pode acontecer, e quando você sorri e me fala de brócolis e exercício eu me sinto exausta, simplesmente exausta. Não perdi a esperança, só quero pensar em todas as possibilidades.

Estou cansada, muito cansada, e não estou me sentindo bem hoje.

Contei-lhe tudo o que podia contar por enquanto.

Eu te amo,

Mamãe"



"Oi, mãe,

Sua carta tinha muitos trechos difíceis de ler. Queria saber o que você FEZ, mas, em vez disso, você falou apenas das coisas que não conseguiu fazer. Então me dei conta de que quase não conheço sua história. Como você era quando tinha a minha idade? Você e papai conversavam sobre o quê? Onde se conheceram? Você se casou com ele só porque ficou grávida de mim? Por que se divorciaram? Foi difícil cuidar de mim sozinha?

Essas perguntas estão me fazendo chorar, mãe, mas não sei por quê. Talvez estejam abrindo as portas de um mundo que só conheço pelas beiradas. Um mundo adulto. É assustador, não gosto disso."


"Querida mamãe,

Hoje fui à reunião do grupo de apoio e a Mary sugeriu que lhe escrevesse uma carta mesmo que não possa mais entregá-la. Ela disse que eu me sentiria mais próxima de você e que talvez houvesse coisas que gostaria de lhe contar.

Vim escrever em nossa casa, estou sentada na cozinha. A casa já está à venda, mas neste instante posso quase fingir que você está deitada em seu quarto, ou que está trabalhando e estou esperando que você chegue para me contar sobre os bebês que nasceram, ou me dar um abraço. O pior foi quando olhei para a porta da geladeira, à procura de um bilhete seu, e não encontrei nada. A porta da geladeira estava branca e vazia. Fiquei chorando por séculos.

Estou com saudade, mãe. Queria que ainda estivesse aqui com a gente. Gosto de morar com o papai, mas queria que você ainda estivesse aqui. Não entendo por que tiveram que tirá-la de mim, ou por que você teve que ficar doente, ou por que teve que morrer tão depressa quando tanta gente sobrevive a essa doença. Por que teve que ser assim? Como você pôde simplesmente ir embora?

Como pôde me deixar? É como se eu estivesse zangada com você, mãe. Não é uma idiotice?

Você se lembra de como o outono foi mais bonito? De como olhávamos pela janela do quarto à medida que você adoecia, admirando os tons amarelos e vermelhos do nascer do sol? Você lutou tanto, mãe... Odeio que tenha sido tão difícil para você.

O inverno foi longo e frio. Tenho ido à escola, mas parece que estou sempre numa espécie de bruma. A Emma tem sido muito gentil, o James também, e a Gina tem sido ótima, mãe, você não ia acreditar. Mas eles não são você. O Natal foi horrível.

Mary tinha razão. Realmente me sinto melhor escrevendo para você, embora tenha me feito chorar como não fazia há meses. Ela diz que é normal ficar triste, zangada, confusa. Não me parece normal. Não mesmo.

O Peter está bem. Montei a gaiola dele na casa do papai, e, quando faço carinho nele, lembro do verão e do outono que passamos juntas, fazendo aqueles álbuns de fotografia, comendo o que a Gina preparava, tentando nos conhecer melhor. Posso até me esquecer de como foi difícil para você no fim, mas jamais esquecerei de como você foi forte e corajosa. Tenho uma foto de você sentada numa cadeira de rodas no hospital. Seus olhos estão lindos e grandes. Você parece surpresa, mãe, como se tivesse sido pega desprevenida. Parece que nós duas fomos pegas de surpresa.

Queria que tivéssemos mais tempo, mãe. Acho que isso é tudo o que tenho a dizer. Queria ter tido mais tempo para ficar com você. Mas fico feliz pelo tempo que tivemos. Muito feliz. Quando voltar para a casa do papai, vou folhear os álbuns e vou me lembrar de tudo.

Acho que vou deixar essa carta aqui para você. Nesta cozinha vazia. Assim, se você voltar para casa, vai saber que eu te amo e que sinto sua falta. Por favor, não se preocupe comigo.

Sua filha,

Claire"


"Querida mamãe,

Amanhã é meu aniversario. Não acredito que já vou fazer 17 anos! O papai e o James (ele é meu namorado agora – você se lembra do James, da escola?) estão planejando alguma surpresa, mas tenho que fingir que não sei de nada. Vou tentar parecer surpresa.

Tinha ficado com a chave da casa, esperando o momento certo. Hoje estava sentada à margem do rio onde costumávamos caminhar, e, de repente, me dei conta do que deveria fazer com ela. Atirei-a longe, com toda a força. Ela cintilou à luz do sol, depois caiu na água e sumiu. Eu me senti bem, mãe, pela primeira vez em muito tempo, eu me senti bem. Sentada à margem do rio, parecia que podia ouvir sua voz no vento, dizendo que você estava bem.

Um dia vou dobrar esse bilhete e vou colocá-lo no rio. Mas por enquanto vou mantê-lo junto a mim.

Eu te amo,

Claire"

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso.
Ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice, uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser, um toque de intuição e um tom de doçura.
Ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude, uma solidão de artista e um ar sensato de cientista. 
Ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo.
Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. 
Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."

(Paula Fernandes)

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Corre-se o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...

Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar…a gente corre o risco de chorar um pouco, quando se deixou cativar. E acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua, é a única no mundo. É simples, o segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.”
Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.




[O pequeno príncipe, Antoine de Saint-Exupéry]

sábado, 28 de agosto de 2010

10 MANDAMENTOS PARA UM BOM ROMANCE:





1) Somente as pessoas bonitas farão os papéis principais;
2) os trajes e os ambientes serão, de preferência,luxuosos; 
3) a linguagem, tanto quanto possível,trará imagens poéticas, pois é preciso um pouco de literatura; 
4) as histórias, sempre românticas,conterão um drama que corra paralelo. Podem ser incluídos: roubo, revólver, mulher perversa (madrasta), tentativa de homicídio, etc. Haverá,contudo 2/3 de amor (romance) e 1/3 de drama no máximo; 
5) é proibido falar-se em adultério. Nada que fira a lei poderá ser estimulado; 
6) a história deverá girar em torno de pessoas que pertençam a níveis sociais diferentes. As mocinhas sonham em se transformar em princesas...; 
7) cenas mais fortes convencem: briga, rapto, afogamento e, na parte amorosa, um pouco de cinema: nas cenas de amor de maior intensidade, corpos em pose sensual, mas sem exagero!; 
8) a idéia de grandiosidade: improvisar festas ou bailes, colocar muita gente em cena, tudo isso valoriza a apresentação; 
9) o fim deve ser sempre em estilo'final feliz', sem precisar de beijo, necessariamente;
10) sempre será estimulada a vitória do bem sobre o mal, jamais se admitindo histórias de princípios morais duvidosos.
(cavalcante,p.69,70)

sábado, 17 de julho de 2010

Se eu adormecer não me acorde. 
Deita ao meu lado, segura minha mão e entra no meu sonho.


terça-feira, 6 de julho de 2010

Cansada, triste, decepcionada, magoada, esquecida, escanteada, iludida, enganada... sim, é assim que eu me sinto hoje.. me sinto agora.. e sabe o que é pior? talvez isso aconteça sempre, porque eu sou ingênua.. eu me preocupo com as pessoas, eu ligo pra elas, ofereço minha outra face pra apanhar.. mas ninguém liga pra mim, ninguém vem atrás de mim, ninguém se importa. Talvez eu pudesse apenas me conformar... me acomodar com o que me incomoda.  E o que dói mais é que quanto mais a gente ama uma pessoa, mais ela faz 'isso' com a gente. Dói mais sim. Mas eu sou besta. Nunca aprendo, e amanhã provavelmente vou me derreter toda com um pedido de desculpas e esquecer o que passou. Esquecer até que aconteça de novo. Como agora. Tô um pouco cansada de fingir que nada aconteceu pra evitar conflitos. Não estou com raiva, mas seria muito bom gritar e colocar pra fora, a plenos pulmões, tudo o que me machuca agora... mas aí, e eu tenho certeza disso, eu vou me arrepender de ter tido razão, e vou pedir desculpas pelos erros que eu não cometi. Eu realmente espero aprender a ensinar às pessoas como ser respeitada. Um dia, e eu espero que seja logo, eu espero aprender como me dar ao valor, para que as pessoas me valorizem. O segredo não é ficar sozinha, como eu pensei muitas vezes. Solidão não resolve tantos problemas assim como eu pensava. O segredo, é saber como estar junto, e isso, ninguém sabe. E eu me incluo nessa. Eu só realmente espero não me arrepender de querer ter sido carinhosa, romântica, de ter desejado mudar, ser uma pessoa melhor, atenciosa, que gosta de mostrar aos outros que eu me importo com eles. Como diria o poeta, espero um dia poder dizer às pessoas que nada foi em vão, e que o amor existe. E que eu o encontrei. E ele me encontrou. E me tratou bem. Como lá no fundo, eu acho que mereço!

domingo, 4 de julho de 2010

- ow, meu deus.. ele é lindo!
- então vai lá! fala com ele!
- não. ele é um unicórnio.
- ?
- uma criatura mágica. serve apenas para ser visto, não podemos falar com ele.
- ¬¬.

domingo, 20 de junho de 2010

Dizem que o tempo fará com que isso passe, mas é o tempo que tem pego meus 'amanhãs' e os transformado em 'ontens'.

Ben Harper

sábado, 19 de junho de 2010

viagem a portugal


(...) Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: “Não há mais que ver”, sabia que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com Sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir. E para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Adorável Canalha

[Fabrício Carpinejar]




É um defeito, mas nada mais delicioso do que ouvir de uma mulher: "CANALHA!" 

Ser chamado de "canalha" por uma voz feminina é o domingo da língua portuguesa. O som reboa redondo. Os lábios da palavra são carnudos. Vontade de morder com os ouvidos. Aproximar-se da porta e apanhar a respiração do quarto pela fechadura. 

Canalha, definitivo como um estampido, como um tapa. Não ser chamado de canalha pela maldade, mas por mérito da malícia, como virtude da insinuação, pelo atrevimento sugestivo. Não o canalha canalha, mas o ca-na-lha, sem repetição. Único. Irrepetível. Não o canalha que deixa a mulher, o canalha que permanece junto. O canalha adorável que ultrapassou o sinal vermelho para levá-la. O canalha que é rude, nunca por falta de educação, para acentuar a violência do amor. Canalha por opção, não devido a uma infelicidade e limitação intelectual. Canalha em nome da inteligência do corpo. 

O canalha. Como um elogio. Um elogio para dizer que é impossível domesticar esse homem, é impossível conter, é impossível fugir dele. Canalha como pós-graduação do "sem-vergonha". 

Bem diferente de crápula, que não é sensual e define o mau-caratismo indelével, ou do cafajeste, alguém que não presta nem para ser canalha, de índole egoísta e aproveitadora. 

Eu me arrepio ao escutar canalha. Um canalha que significa o contrário do dicionário. Nem perca tempo consultando o Aurélio e o Houaiss, que não incluem o sentimento da pronúncia. Estou falando do canalha que suscita aproximação, abraço, desejo. Um canalha que é um pedido de casamento entre as vogais. 

É pelas expressões que se define a segurança masculina. Sempre duvidei de homem que diz que vai fazer xixi. Xixi é coisa de criança. Eu não represo a gargalhada quando um amigo adulto e de vida feita comenta que vai fazer xixi. Imagino o cara sentado. Infantil, como Ivo viu a uva. Já urinar é muito laboratorial. Prefiro mijar, direto, rápido e verdadeiro. As árvores mijam. Os relâmpagos mijam. Os cachorros mijam para demarcar seu território. Aliás, o correto é não anunciar, ir ao banheiro apenas, para evitar constrangimentos vocabulares. 

Canalha funciona como uma agressão íntima. Uma agressão afetuosa. Uma provocação. Não se está concluindo, é uma pergunta. Canalha é uma interrogação gostosa. 

Não ficarei triste se esquecer meu nome, chame-me de canalha.






Ainda estou estupefata com essa notícia, mas.... se ele gosta... se outros gostam... fazer o quê?

sábado, 29 de maio de 2010

(Geraldo Azevedo)


Dona da minha cabeça ela vem como um carnaval
E toda paixão recomeça, ela é bonita, é demais
Não há um porto seguro, futuro também não há
Mas faz tanta diferença quando ela dança, dança



Eu digo e ela não acredita, ela é bonita, bonita, demais

Dona da minha cabeça quero tanto lhe ver chegar
Quero saciar minha sede milhões de vezes, milhões de vezes

Na força dessa beleza é que eu sinto firmeza e paz
Por isso nunca desapareça
Nunca me esqueça, eu não te esqueço jamais


Eu digo e ela não acredita, ela é bonita, é bonita







por que meu namorado é tão "lindo demais" e também não acredita?

João e Maria

(Sivuca e Chico Buarque)

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A
noiva do cowboy
Era você
Além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava um rock
Para as matinês

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era
obrigado a ser feliz
E você era a princesa
Que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Sim, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade
Acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo
Sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim

terça-feira, 25 de maio de 2010





A felicidade morava tão vizinha
Que, de tolo, até pensei que fosse minha

[Chico]

segunda-feira, 24 de maio de 2010

vou ler para aprender ou apreender a necessidade do sonho.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Nunca te vi, sempre te amei

Sou uma escritora [leitora] pobre e de gosto antigo.

Adoro livro usados que abrem na página preferida do antigo dono. No Hazlitt estava escrito: "odeio livros novos". Eu gritei: "companheiro!" para quem fosse o antigo dono.

Eu fico aqui fazendo anotações em livros de biblioteca que não me pertencem! Quando descobrirem, ficarei sem meu cartão da biblioteca.

Por favor, escreva-me e me conte sobre Londres. Eu anseio pelo dia em que descerei do trem e sentirei a sujeira das calçadas londrinas. (...) Um jornalista amigo que viveu em Londres durante a guerra diz que os turistas têm ideis pré-concebidas da Inglaterra e encontram exatamente o que procuram. Eu disse que procuro a Inglaterra da literatura e ele disse: "essa está lá".

Bem, tudo o que tenho a dizer a você, Frank Doel, é que vivemos numa época decadente, em que uma livraria destrói livros antigos para fazer papel de embrulho. Para piorar, vocês rasgaram um livro bem no meio da guerra e eu nem sei que guerra era!

- Não é bonito? É uma primeira edição. Tem cem anos. Eu me sinto culpada. Todo esse couro e o ouro. Fica bem em biblioteca de casa de campo inglesa. Deve ser lido à lareira, numa poltrona de couro. Não nesses estofados de segunda mão, neste velho apartamento.
- Se eu fosse este livro, iria querer viver aqui!

A todos em 84a Charing Cross Road, obrigada pelo lindo livro. Nunca tive um livro com margens em ouro. Vocês acreditam que chegou no meu aniversário? Pena vocês terem feito a dedicatória num cartão e não na primeira página. É o vendedor dentro de vocês. Recearam depreciar o livro. Para mim, teria aumentado o valor. E para os futuros donos deste livro também. Eu adoro anotações em livros. Adoro a sensação de camaradagem de abrir páginas anteriormente lidas. Por que vocês não assinaram?

Preguiçosos! Vou apodrecer aqui e vocês nada me enviam! Eu devia fazer compras na Brentano. Acrescente "Lives", de Walton à lista de livros que você não me manda. É contra meus princípios comprar um livro que eu não tenha lido. É como comprar um vestido sem experimentar. Nem a biblioteca empresta o livro de Walton por aqui. É possível vê-lo na filial da rua 42, mas eles não emprestam. A mulher me disse: "coma aqui mesmo. Sente-se na sala 315 e leia o livro todo." Sem direito a café ou a cigarro. Mas não importa. Eu não me interesso por coisas que não aconteceram e pessoas que não existiram. O que vocês fazem aí? Leem o dia inteiro? Por que não tentam vender livros?

Tirei um mês de férias do meu dentista. Ele viajou em lua-de-mel financiada por mim. Ou eu tratava dos dentes ou ele arrancava todos. Eu tratei já que estou acostumada a ter dentes. Mas o custo é astronômico. Elizabeth terá de subir ao trono sem mim. Coroa, só em dente pelos próximos dois anos.

Tivesse eu os céus bordados em tecidos envolvidos por luz dourada e prateada
Tecidos claros e escuros representando o dia e a noite
Eu os espalharia sob seus pés
Mas, como sou pobre, tenho apenas meus sonhos\
Espalhei meus sonhos sobs seus pés
Caminhe suavemente: Você pisa em meus sonhos.
[Willian Butler]

A humanidade, como um todo, forma um grande livro. Quando um homem morre, um capítulo não é arrancado, e sim, traduzido para um idioma melhor. E cada capítulo deve assim ser traduzido. Deus emprega vários tradutores. Alguns trechos são traduzidos pela idade, outros por doenças; alguns, pela guerra. Mas a mão de Deus reúne todas as folhas soltas e as coloca naquela biblioteca em que os livros se abrem uns para os outros. [John Donne]

"O leitor pode não acreditar nessas coisas", diz Walton em algum lugar, "mas eu estava lá e vi". Eu sou assim. Adoro livros do tipo: "eu estava lá".

Caros Kay e Brian,
Faço uma pausa na limpeza da minha estante para lhes desejar boa viagem. Espero que se divirtam muito em Londres. Talvez tenha sido melhor eu nunca ter ido para lá. Eu sonhei com isso por tantos anos... Eu assistia a filmes ingleses só para ver as ruas. Um amigo disse que os turistas vão à Inglaterra e encontram exatamente o que procuram. Eu disse que procurava a Inglaterra da literatura. E ele disse: "essa, está lá". Talvez esteja. Talvez não. Olhando para estes livros, de uma coisa eu sei, está aqui. (...) Se vocês passarem pela Charing Cross Road, número 84, deem um beijo nela para mim. É uma dívida que carrego.


Estou aqui, Frank. Finalmente.
Chaucer

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A noite é feminina; mais delicada que o áspero dia. A noite inspira quietude e nos envolve de recato.

Sou seu H.I.V.



Divirta-se!
No seu momento de distração,
Transcendência, gozo e alucinação.
Sutilmente penetro na sua fortaleza
Injeto meu vírus. Aí, que beleza!
Demoro um tempo para ser percebida
Quando perceber já estou acabando com a sua vida
Vou acabando com sua imunidade
Como corda vou amarrando seus braços
Deixando-te sem mobilidade
Seus glóbulos vou matando sem piedade
Sou poeta destruidora de alienação
Saudando minha ancestralidade
Combatente, militante contra a padronização.
Onde diz que a loira é bonita
E que o feio está em mim
Enganou-se, pois, sou descendente de Zumbi
Resistente que nem Anastácia
Liderança feminina feita a Dandara
Posso organizar um esquadrão
De talentos marginalizados assim como Luiza Mahin
Na revolta do Malês linha de frente
Posso me incorporar com marinheiro
Dominando as náuticas João Cândido guerreiro
Ainda continuamos nos porões
Lixo, esgoto, escravidão e senzala
São heranças que nos foram deixadas
Iguais a mim existem vários na missão
Organizando-se, se armando de informação.
Para vocês somos algo negativo
Como o vírus do HIV no organismo
Cada dia mais vamos nos fortificando e se proliferando
Somos veneno e não temos antídoto
Espalharemos a destruição
Destruiremos essa herança escravocrata
Estrutura capitalista, racista, exploradora, deturpada.
Ah! Se achar que acabou se prepare.
Pois agora irá ouvir o que nos tem fortificado
Foi o seqüestro que me trouxe a esse continente
A condição desumana que fui transportada junto aos dejetos
Os estupros como se eu fosse um animal
Os ferrões no meu corpo simbolizando que agora eu era seu objeto
Seu brinquedo vivo de certo
Sou nascida de sangue, suor, lágrimas
Acuada, desprotegida como rato na frente de um gato
Minha religião foi amaldiçoada, e a sua dizia que eu não tinha alma
Dominaram minha língua e impuseram a de vocês
Como se a minha nada representasse
Meus seios cheios de leite por seus filhos eram sugados
Enquanto os meus bebês morriam de fome e maus tratos
E assim fui nutrida com a ajuda dos orixás
Resisti até aqui no século XXI
Sendo que na minha casa falta o pão
Na infância faltaram-me os brinquedos para a diversão
Fui crescendo alimentada pelo descaso
Pela fome, pela negação de oportunidades
Sem políticas públicas, sem escola, sem faculdade
Hoje quero reparação, mesmo que não apague as chicotadas
Quero vida decente para a futura geração
Sei que vocês continuam se achando superiores
Mas não se esqueça que sou seu HIV
Estou entrando devagarzinho e levarei aos poucos
Tudo que nos foi roubado.
[MJIBA]

quarta-feira, 14 de abril de 2010

DO AMOR



Não falo do amor romântico,
aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão,
paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida,
explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto,
formatado, inteiro, antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim,
que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído,
inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta?
O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
o amor será sempre o desconhecido,
a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido,
quer ser violado,
quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
e nós preferimos o leito de um rio,
com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha e
nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa,
como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
o amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor,
se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a Vida é feita.
Ou melhor, só se Vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.

domingo, 11 de abril de 2010

8891-3953

sábado, 27 de março de 2010

uma declaração roubada...

"Eu não imagino mais minha vida sem ele. Às vezes ele olha pra mim e pergunta onde eu estava este tempo todo que só agora apareci na vida dele. Quem deveria fazer esta pergunta sou eu, eu penso.
A hora voa ao lado dele, e não passa quando não está por perto. As coisas não funcionam direito na sua ausencia e na sua presença perdem a importancia.
O sentimento mais forte que já senti por outra pessoa, (tirando familia). A vontade de ficar 24hs grudada..
A baladeira de plantão largou todas as baladas, a menina carente que chorava todas as noites por não ter amor agora só sorri.
Todas as lacunas vazias da minha vida parecem finalmente cheias. E eu não me aguento mais dentro de mim.
Preciso contar o quanto estou feliz, o quanto me sinto completa..o quanto estou amando de uma maneira que eu não pensei que existisse.
Ele não é só meu namorado, ele é meu companheiro, meu amigo, a pessoa que mais me faz rir; ele é o principe encantado que eu sempre esperei".




Roubado de Paloma.

segunda-feira, 15 de março de 2010

"quero casar com você porque você é a primeira pessoa que quero ver de manhã quando acordo e a última que quero beijar à noite, antes de dormir"  (Três vezes amor)




















é realmente um excelente motivo, não foi à toa que ela aceitou.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Pessoa Errada

Pensando bem, em tudo o que a gente vê, e vivencia, e ouve e pensa,
não existe uma pessoa certa pra gente
Existe uma pessoa que, se você for parar pra pensar é,
na verdade, a pessoa errada
Porque a pessoa certa faz tudo certinho
Chega na hora certa,
Fala as coisas certas,
Faz as coisas certas,
Mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas
Aí é a hora de procurar a pessoa errada
A pessoa errada te faz perder a cabeça
Fazer loucuras
Perder a hora
Morrer de amor
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
Que é prá na hora que vocês se encontrarem
A entrega ser muito mais verdadeira
A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa
Essa pessoa vai te fazer chorar
Mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas
Essa pessoa vai tirar seu sono
Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível
Essa pessoa talvez te magoe
E depois te enche de mimos pedindo seu perdão
Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado
Mas vai estar 100% da vida dela esperando você
Vai estar o tempo todo pensando em você
A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo
Porque a vida não é certa
Nada aqui é certo
O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo
Amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo
E só assim é possível chegar àquele momento do dia
Em que a gente diz: "Graças à Deus deu tudo certo"
Quando na verdade
Tudo o que Ele quer
É que a gente encontre a pessoa errada
Para que as coisas comecem a realmente funcionar direito prá gente.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Eu não sei voar. (Tati Bernardi)

Ela pisou sem dó no meu meio sorriso, fazendo ele virar um pavor inteiro e verdadeiro.
Eu canso dos meus meio sorrisos tanto, tanto, que prefiro que a vida seja assim mesmo. E aí me pergunto se chorei de tristeza profunda ou alegria libertadora, o que acaba dando no mesmo porque minha profundidade me liberta.
A barata preta, enorme e voadora posou no canto da minha boca. E eu pude chorar todos os meus medos no seu sofá e eu pude ficar curvada do jeito que a minha sombra, que só eu vejo, é. E eu pude borrar todos os meus disfarces e ficar feia sem culpa, porque a dor consegue ser sempre maior do que qualquer culpa, por isso o meu vício em sofrer.
Eu chorei a nossa imperfeição, eu chorei a saudade enganada da nossa perfeição, eu chorei a nossa necessidade de não se largar, eu chorei a nossa necessidade de se largar, a nossa necessidade de fugir do mundo em nós e a nossa necessidade de fugir de nós encontrando amigos.
Eu chorei o nosso ego que sempre tem respostas para tudo e não pode perder, chorei o nosso silêncio cansado de perguntas e desprovido de interesses, a pobreza do mundo que nos impossibilita de sermos felizes sem culpa, a falta de simplicidade que eu tenho para ser feliz e eu chorei o espaço da nossa alma que ainda falta evoluir.
Eu chorei o nosso medo de não sermos o que sonhamos. Eu chorei o medo que eu tenho de não ser quem você quer e o medo que eu tenho de ser exatamente o que você quer.
Eu chorei porque precisava de colo, porque precisava te mostrar a minha fragilidade escondida no meu mau-humor. Eu chorei de birra do meu lado homem.
Eu chorei porque vez ou outra ele ainda bate na minha porta e eu o deixo entrar, e eu sei que isso é medo do tanto que você habita todos os lugares.
Eu chorei porque eu te amo mas eu não sei amar. Eu chorei porque eu sempre canso de tudo e tudo sempre cansa de mim. Chorei de cansaço profundo de sempre cansar de tudo e tudo sempre cansar de mim. Chorei de apego ao cheiro do novo e principalmente de melancolia pelo cheiro do velho. E chorei porque tudo envelhece com novos cheiros e a vida nunca volta. Eu chorei de pavor da rotina, de pavor do fim, de pavor de sair da rotina e começar outros fins.
Eu chorei meu medo de submissão, o meu medo de vomitar, o meu medo de me mostrar pra você tanto, tanto, e não ter mais o que mostrar. Eu chorei minha infinidade de coisas e o medo de você não querer abrir os mais de um milhão de baús que existem escondidos na caixa cerrada que eu guardo embaixo do meu peito. Eu chorei meu fim e o medo do meu infinito.
E eu teria chorado cinco anos se você não me dissesse que já era hora de parar. E eu chorei depois cinco anos escondida, porque eu não sei a hora de parar e não quero que ninguém me diga.
Aliás, eu quero sim. Eu quero que você me diga quando for a hora de parar, de continuar e de não pensar em nada disso.
Eu quero que você me acorde com uma lista de horas e outras lista de anos e outra lista de encarnações. Eu quero que você me dê a mão e me ensine o que é um relacionamento 
porque eu só sei andar de quatro, cheirando xixis nas ruas e rabos alheios.
Eu quero que você me ensine a ser uma mulher para você.Ao mesmo tempo eu quero que vocë suma porque eu só quero ser uma mulher para mim. Eu me quero só para mim.
Era minha a dor de ser solitariamente para mim. E você a substituiu pela dor de não querer mais ser solitariamente só para mim. Mas tudo é dor afinal, e eu não sei ser leve, eu não sei voar, mas a barata que vôou para o canto da minha boca, sabe.
Eu carrego o esgoto no meu ventre negro, mas não sei voar como ela. Por isso ela ainda consegue ser melhor do que eu.
E com todos os meus poderes para estragar a vida de alguém, eu ainda tenho medo da barata.Porque ela sabe ser misteriosa, ela sabe incomodar sem abrir a boca, ela sabe enojar o mundo com sua meleca branca sem ter que mostrá-la a ninguém.
Ela é muito mais misteriosa do que eu.
Em comum temos as chineladas do mundo e todos os seres amedrontados que querem acabar com a nossa raça. Mas o poder dela ainda é muito maior do que o meu, porque ela não ama, ela não se sente traída pelas chineladas do mundo.
Ela não sabe o que é não entender nada desse mundo e ter medo do tempo. Ela não sabe o que é ter nas mãos o poder de construir e destruir e ter tanto medo desse poder.Ela vive no esgoto e não sabe o que é ter tanto medo dele.
Ela aparece sem ser desejada e não sabe o medo que não ser desejada causa.
Ela é uma barata e nunca vai saber o medo que a gente sente de se sentir uma.
E eu chorei tanto que finalmente transformei meu meio canto de boca num bico inteiro. E chorei porque tenho tanto medo de tudo o que é inteiro, que prefiro viver tudo na cabeça, enquanto o corpo relaxa na minha cama, longe de tudo.
Eu deito na minha cama e imagino tudo o que pode acontecer, enquanto não toco de verdade na vida para não cansar demais e depois não ter forças para viver de verdade. Mas acabo dormindo e deixo pra depois.
Mas eu chorei justamente porque descobri que viver na cabeça também é um tipo de coragem, porque eu não protejo a alma de feridas e nem de descanso.
Mas aí ela, preta, imunda, nojenta, indesejada, um pedaço do esgoto, vôa em minha direção e me coloca em movimento. E eu corro pra bem longe e não penso, só corro.
E isso é tão diferente para mim, estar em movimento de fora para dentro, que eu choro de emoção.
Eu não pensei, eu vivi. Eu corri dela, eu vivi o medo. Eu vivi o nojo. E eu chorei de dor de sair da minha bolha interna.
Ela me fez ter vontade de gritar para o mundo nojento para que ele deixe meu coração em paz. Meu coração que quer amar em paz e esquecer que a vida pode ser nojenta.
E eu corri de tudo o que é nojento, e eu chorei porque com tantas coisas lindas me acontecendo, eu precisei de uma barata para me lembrar de sentir a vida fora da minha bolha.
Ela perfurou minha proteção e saiu da minha rotina. Ela invadiu tudo e me lembrou que as coisas podem dar erradas sim, quando se menos espera, e não adianta nada estar com o chinelo preparado na mão para se defender da vida.
A vida voa na sua cara, esbarra no seu rosto, suja sua vaidade, corrompe suas certezas, e você não pode fazer nada. A não ser lavar o rosto e começar tudo de novo.

O Amor é uma Doença [Tati Bernardi]

Eu não sei guardar coisasSe eu compro chocolates, como todos no mesmo dia. Se eu compro balas, chicletes, devoro todos em minutos, compulsivamente. Detesto saber que algo me espera, quero acabar logo com aquilo.
Não sei lidar com a responsabilidade da felicidade. A felicidade guardada na bolsa ou na vida. Eu tenho um homem lindo me esperando essa hora, e eu quero com todas as células do meu corpo ir ao encontro dele. Mas eu não sei lidar com tanta felicidade, por isso estou planejando a morte dele.
Estou planejando matá-lo com minha estupidez, quero que ele morra fulminado pelas minhas armas de boicote. Quero que ele perceba o quanto sou chata, ciumenta, louca e doente. E que ele enjoe logo da minha cara abatida de intensidade. Que ele pegue logo bode do meu cansaço em viver tanto, porque vivo muito mesmo quando estou deitada olhando para um ponto fixo.
É tão cansativo ser eu mesma com todos os meus medos e neuroses, e quero que ele sinta o fardo do meu peso. Morra e me liberte dessa alegria incontrolável. Passe desta para uma melhor, porque eu sou um lixo.
Eu lembro daquele conto da Clarice em que a garotinha ruiva guardava os contos para ler depois, porque queria prolongar o mistério da felicidade. Pois eu quero mais é botar fogo em todos os contos de felicidade que a vida escreve para mim, porque por alguma razão maluca a felicidade me escraviza, me paralisa, me faz ficar triste. Eu olho para você e tenho tanta, mas tanta alegria em saber que você existe, que sinto ódio. Ódio de eu não mais esperar por você.
O sentido da minha vida era encontrar você. O motivo para eu seguir adiante nos corredores escuros e bater em portas obscuras, era a sua busca. Agora que você está sentado numa sala clara e óbvia, não preciso mais me enfiar em buracos. Mas os buracos eram a única trilha que eu conhecia.
Você me soltou na atmosfera e eu estou voando. E eu sinto saudades do buraco, da espera, da angústia. Eu sinto falta de olhar triste para o espelho e me sentir metade. Agora que eu tenho você, nem perco mais meu tempo olhando para o espelho, porque só tenho olhos para você. Você me roubou de mim mesma. E eu sou tão ciumenta que estou com ciumes de mim. Você me tirou da minha vida incompleta. E me transformou numa completa idiota. O amor é uma doença. Eu sinto náuseas, febres, dores musculares. Eu acordo assustada no meio da noite. Eu choro à toa.
Eu estava do lado da sujeira, eu era a outra, eu estava por dentro do crime. Você me fez sentir um mundo limpo, verdadeiro e eterno. E esse mundo é tão novo pra mim, que eu te odeio. Que eu estou pequena nele, e preciso de você o tempo todo para me abraçar e dizer que está tudo bem. E quando você não está por perto, eu caio. Porque não sei nada desse mundo de alegrias e coisas bonitas. Você não me deu saída. Você transformou todas as vozes que me davam escapatórias para outros corredores, em sons sem lábia. Minhas saídas perderam as escadas escuras e charmosas, porque você lavou meu chão de imundícies com amaciante Fofo.
Se eu tentar fugir, escorrego no perfume da minha nova vida. A nova vida que não sei viver. A nova vida que quero viver ao seu lado. Ao lado do homem que eu odeio porque nunca amei tanto.
Ao lado da felicidade que eu odeio porque se ela acabar, não sei mais se consigo voltar pra casa. E nem se quero.
Era eu, entende? Era eu que me atracava com o lado errado da vida para estar sempre certa. Era eu a resposta para todas as perguntas que ninguém tem coragem de perguntar. Sim, o mundo é imperfeito, as pessoas traem, o amor não existe, seu marido me come, seu namorado me come, o mundo quer me comer enquanto você borda seu laço cor-de-rosa.
Agora eu estou aqui, inconformada com o seu passado, querendo matar suas lembranças. Com ciumes do seu silêncio porque ele está com você há mais tempo do que eu e eu tenho medo do quanto ele te consome, com ciumes do seu sono porque ele te leva do meu foco.
Com raiva da sua importância porque ela me congela, com raiva do tempo que não dura para sempre quando você me olha sabendo das minhas loucuras e ainda assim me amando. Agora eu estou aqui, querendo que todos os amores do mundo durem para sempre, e que nenês nasçam, e que árvores cresçam e que garoras vagabundas não nos invejem e que os desejos das nossas sombras não nos traia.
Agora eu estou aqui, de quatro, de lingua no chão, te odiando muito, virando a cara, socando você, cuspindo em você, te tratando mal, tudo isso porque não sei lidar com o mundo girando na minha barriga, a tontura do amor, o enjôo do vício em você, a dor do músculo quando me separo. Pode parecer maluco, mas todas as minhas súplicas para que você desista de mim, é um jeito maluco de pedir que você não desista nunca, pelo amor de Deus.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Só mais um pouco de cala a boca(Tati Bernardi)



(...)Não sei direito o que é aurora boreal, mas acho que deve ser algo lindo que se formava enquanto você era feito. Não sei direito o que é isso que eu sinto por você. Mas como é maravilhoso fumar você, cheirar você, tomar você, injetar você. Calar a boca.
Sei que é por pouco tempo.
Somos plantas diferentes. Pássaros diferentes. Estamos experimentando nossos mundos tão excêntricos. Muito em breve vamos nos afastar com a intensidade de opostos tão óbvios.(...) Você sabe que é superior. Você sabe que pode fazer tudo devagar, o mundo te espera. O resto é platéia. Você sabe que faz as pessoas tremerem a voz. Você sabe que deixa apenas duas escolhas pras pessoas: te idolatrar ou sair correndo. E como eu não sou mulher de correr da dor, deixo ela entrar aos pouquinhos, esbugalhar meus sentidos, enfraquecer meu orgulho. Quando vejo, estou calada novamente, ouvindo o que você não diz e vendo o que você não faz.(...)
quem quer dá um jeito, quem não quer dá uma desculpa...

e eu, sinceramente, cansei das duas...

não, você não sabe, você não sabe como eu tentei me interessar pelo desinteressantíssimo...
Eu não faço a menor idéia de como esperar você me querer. Porque se eu esperar, talvez eu não te queira mais.

As maçãs do topo da árvore



"As melhores mulheres pertecem aos homens mais atrevidos. Mulheres são como maçãs em árvore: as melhores estão no topo. Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar; preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir. Assim, as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando, na verdade, eles que estão errados. Elas precisam esperar um pouco para o homem certo chegar: aquele que é valente o bastante pra escalar até o topo da árvore."

Machado de Assis.

O Excesso da falta (Tati Bernardi)


(...)O que sobra em mim, o que eu guardo no peito, é sempre o negativo do que expeli para o mundo. Por isso o e-mail, carinhoso, um jeito de te expulsar mais uma vez, porque é só isso que sei fazer quando o assunto é sentir além de mim. E quando te trato mal, são dias te amando aqui, nos espaços vazios que você jamais preencheria e que são absolutamente você. (...)

"Eu esperava alguém que pudesse só me abraçar por um tempo maior que esses socorros rápidos que arrumo quando grito mais alto."

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

amar é bem melhor que ver o amor passar

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

"Prometo te querer; Até o amor cair; Doente, doente..."  (Chico B.)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

 A segunda-feira me assalta, leva a breve felicidade que tive contigo no fim de semana. Para sexta, quanto falta?