sábado, 29 de maio de 2010

(Geraldo Azevedo)


Dona da minha cabeça ela vem como um carnaval
E toda paixão recomeça, ela é bonita, é demais
Não há um porto seguro, futuro também não há
Mas faz tanta diferença quando ela dança, dança



Eu digo e ela não acredita, ela é bonita, bonita, demais

Dona da minha cabeça quero tanto lhe ver chegar
Quero saciar minha sede milhões de vezes, milhões de vezes

Na força dessa beleza é que eu sinto firmeza e paz
Por isso nunca desapareça
Nunca me esqueça, eu não te esqueço jamais


Eu digo e ela não acredita, ela é bonita, é bonita







por que meu namorado é tão "lindo demais" e também não acredita?

João e Maria

(Sivuca e Chico Buarque)

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A
noiva do cowboy
Era você
Além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava um rock
Para as matinês

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era
obrigado a ser feliz
E você era a princesa
Que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Sim, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade
Acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo
Sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim

terça-feira, 25 de maio de 2010





A felicidade morava tão vizinha
Que, de tolo, até pensei que fosse minha

[Chico]

segunda-feira, 24 de maio de 2010

vou ler para aprender ou apreender a necessidade do sonho.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Nunca te vi, sempre te amei

Sou uma escritora [leitora] pobre e de gosto antigo.

Adoro livro usados que abrem na página preferida do antigo dono. No Hazlitt estava escrito: "odeio livros novos". Eu gritei: "companheiro!" para quem fosse o antigo dono.

Eu fico aqui fazendo anotações em livros de biblioteca que não me pertencem! Quando descobrirem, ficarei sem meu cartão da biblioteca.

Por favor, escreva-me e me conte sobre Londres. Eu anseio pelo dia em que descerei do trem e sentirei a sujeira das calçadas londrinas. (...) Um jornalista amigo que viveu em Londres durante a guerra diz que os turistas têm ideis pré-concebidas da Inglaterra e encontram exatamente o que procuram. Eu disse que procuro a Inglaterra da literatura e ele disse: "essa está lá".

Bem, tudo o que tenho a dizer a você, Frank Doel, é que vivemos numa época decadente, em que uma livraria destrói livros antigos para fazer papel de embrulho. Para piorar, vocês rasgaram um livro bem no meio da guerra e eu nem sei que guerra era!

- Não é bonito? É uma primeira edição. Tem cem anos. Eu me sinto culpada. Todo esse couro e o ouro. Fica bem em biblioteca de casa de campo inglesa. Deve ser lido à lareira, numa poltrona de couro. Não nesses estofados de segunda mão, neste velho apartamento.
- Se eu fosse este livro, iria querer viver aqui!

A todos em 84a Charing Cross Road, obrigada pelo lindo livro. Nunca tive um livro com margens em ouro. Vocês acreditam que chegou no meu aniversário? Pena vocês terem feito a dedicatória num cartão e não na primeira página. É o vendedor dentro de vocês. Recearam depreciar o livro. Para mim, teria aumentado o valor. E para os futuros donos deste livro também. Eu adoro anotações em livros. Adoro a sensação de camaradagem de abrir páginas anteriormente lidas. Por que vocês não assinaram?

Preguiçosos! Vou apodrecer aqui e vocês nada me enviam! Eu devia fazer compras na Brentano. Acrescente "Lives", de Walton à lista de livros que você não me manda. É contra meus princípios comprar um livro que eu não tenha lido. É como comprar um vestido sem experimentar. Nem a biblioteca empresta o livro de Walton por aqui. É possível vê-lo na filial da rua 42, mas eles não emprestam. A mulher me disse: "coma aqui mesmo. Sente-se na sala 315 e leia o livro todo." Sem direito a café ou a cigarro. Mas não importa. Eu não me interesso por coisas que não aconteceram e pessoas que não existiram. O que vocês fazem aí? Leem o dia inteiro? Por que não tentam vender livros?

Tirei um mês de férias do meu dentista. Ele viajou em lua-de-mel financiada por mim. Ou eu tratava dos dentes ou ele arrancava todos. Eu tratei já que estou acostumada a ter dentes. Mas o custo é astronômico. Elizabeth terá de subir ao trono sem mim. Coroa, só em dente pelos próximos dois anos.

Tivesse eu os céus bordados em tecidos envolvidos por luz dourada e prateada
Tecidos claros e escuros representando o dia e a noite
Eu os espalharia sob seus pés
Mas, como sou pobre, tenho apenas meus sonhos\
Espalhei meus sonhos sobs seus pés
Caminhe suavemente: Você pisa em meus sonhos.
[Willian Butler]

A humanidade, como um todo, forma um grande livro. Quando um homem morre, um capítulo não é arrancado, e sim, traduzido para um idioma melhor. E cada capítulo deve assim ser traduzido. Deus emprega vários tradutores. Alguns trechos são traduzidos pela idade, outros por doenças; alguns, pela guerra. Mas a mão de Deus reúne todas as folhas soltas e as coloca naquela biblioteca em que os livros se abrem uns para os outros. [John Donne]

"O leitor pode não acreditar nessas coisas", diz Walton em algum lugar, "mas eu estava lá e vi". Eu sou assim. Adoro livros do tipo: "eu estava lá".

Caros Kay e Brian,
Faço uma pausa na limpeza da minha estante para lhes desejar boa viagem. Espero que se divirtam muito em Londres. Talvez tenha sido melhor eu nunca ter ido para lá. Eu sonhei com isso por tantos anos... Eu assistia a filmes ingleses só para ver as ruas. Um amigo disse que os turistas vão à Inglaterra e encontram exatamente o que procuram. Eu disse que procurava a Inglaterra da literatura. E ele disse: "essa, está lá". Talvez esteja. Talvez não. Olhando para estes livros, de uma coisa eu sei, está aqui. (...) Se vocês passarem pela Charing Cross Road, número 84, deem um beijo nela para mim. É uma dívida que carrego.


Estou aqui, Frank. Finalmente.
Chaucer