sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Vida na Porta da Geladeira

(Alice Kuipers)

"Se o seu mundo virasse de ponta-cabeça, você seria capaz de se apegar ao que realmente importa?"

"Quando olho pra você
Vejo a mulher que quero ser
Forte e corajosa
Linda e Independente

P.S.
Eu te amo."

"Meu coração está descompassado, como se tivesse um beija-flor preso aqui dentro."

"Quando a estrada virar
Estaremos juntas,
Fazendo a curva,
Apoiando-se
Uma na outra, como mãe
E filha,
E mãe.

A sra. Manda disse que o jornal da escola vai publicar o poema. Acho que quero ser escritora quando crescer."



"Tenho me sentido muito triste, muito assustada. O que fiz com a minha vida? Todos esses anos, sempre achei que devia lutar por meus sonhos, mas parece que esses anos ficaram para trás, que tive minha chance e que a desperdicei de alguma forma, que perdi o foco. Tenho você, minha garotinha – você deu sentido à minha vida, deu mais alegria do que qualquer coisa. Mas e quanto a todas as coisas que eu queria fazer? Nunca fui à África. Nunca li Proust. Nunca aprendi a tocar piano ou a ler partituras – aquelas manchinhas pretas no papel que as pessoas traduzem em sons lindíssimos são um mistério para mim, talvez nunca o desvende. Nunca pulei de paraquedas, nunca vi o deserto, nunca fui pescar.

Sei que nem tudo está perdido e que há esperança, mas tenho que pensar no que pode acontecer, e quando você sorri e me fala de brócolis e exercício eu me sinto exausta, simplesmente exausta. Não perdi a esperança, só quero pensar em todas as possibilidades.

Estou cansada, muito cansada, e não estou me sentindo bem hoje.

Contei-lhe tudo o que podia contar por enquanto.

Eu te amo,

Mamãe"



"Oi, mãe,

Sua carta tinha muitos trechos difíceis de ler. Queria saber o que você FEZ, mas, em vez disso, você falou apenas das coisas que não conseguiu fazer. Então me dei conta de que quase não conheço sua história. Como você era quando tinha a minha idade? Você e papai conversavam sobre o quê? Onde se conheceram? Você se casou com ele só porque ficou grávida de mim? Por que se divorciaram? Foi difícil cuidar de mim sozinha?

Essas perguntas estão me fazendo chorar, mãe, mas não sei por quê. Talvez estejam abrindo as portas de um mundo que só conheço pelas beiradas. Um mundo adulto. É assustador, não gosto disso."


"Querida mamãe,

Hoje fui à reunião do grupo de apoio e a Mary sugeriu que lhe escrevesse uma carta mesmo que não possa mais entregá-la. Ela disse que eu me sentiria mais próxima de você e que talvez houvesse coisas que gostaria de lhe contar.

Vim escrever em nossa casa, estou sentada na cozinha. A casa já está à venda, mas neste instante posso quase fingir que você está deitada em seu quarto, ou que está trabalhando e estou esperando que você chegue para me contar sobre os bebês que nasceram, ou me dar um abraço. O pior foi quando olhei para a porta da geladeira, à procura de um bilhete seu, e não encontrei nada. A porta da geladeira estava branca e vazia. Fiquei chorando por séculos.

Estou com saudade, mãe. Queria que ainda estivesse aqui com a gente. Gosto de morar com o papai, mas queria que você ainda estivesse aqui. Não entendo por que tiveram que tirá-la de mim, ou por que você teve que ficar doente, ou por que teve que morrer tão depressa quando tanta gente sobrevive a essa doença. Por que teve que ser assim? Como você pôde simplesmente ir embora?

Como pôde me deixar? É como se eu estivesse zangada com você, mãe. Não é uma idiotice?

Você se lembra de como o outono foi mais bonito? De como olhávamos pela janela do quarto à medida que você adoecia, admirando os tons amarelos e vermelhos do nascer do sol? Você lutou tanto, mãe... Odeio que tenha sido tão difícil para você.

O inverno foi longo e frio. Tenho ido à escola, mas parece que estou sempre numa espécie de bruma. A Emma tem sido muito gentil, o James também, e a Gina tem sido ótima, mãe, você não ia acreditar. Mas eles não são você. O Natal foi horrível.

Mary tinha razão. Realmente me sinto melhor escrevendo para você, embora tenha me feito chorar como não fazia há meses. Ela diz que é normal ficar triste, zangada, confusa. Não me parece normal. Não mesmo.

O Peter está bem. Montei a gaiola dele na casa do papai, e, quando faço carinho nele, lembro do verão e do outono que passamos juntas, fazendo aqueles álbuns de fotografia, comendo o que a Gina preparava, tentando nos conhecer melhor. Posso até me esquecer de como foi difícil para você no fim, mas jamais esquecerei de como você foi forte e corajosa. Tenho uma foto de você sentada numa cadeira de rodas no hospital. Seus olhos estão lindos e grandes. Você parece surpresa, mãe, como se tivesse sido pega desprevenida. Parece que nós duas fomos pegas de surpresa.

Queria que tivéssemos mais tempo, mãe. Acho que isso é tudo o que tenho a dizer. Queria ter tido mais tempo para ficar com você. Mas fico feliz pelo tempo que tivemos. Muito feliz. Quando voltar para a casa do papai, vou folhear os álbuns e vou me lembrar de tudo.

Acho que vou deixar essa carta aqui para você. Nesta cozinha vazia. Assim, se você voltar para casa, vai saber que eu te amo e que sinto sua falta. Por favor, não se preocupe comigo.

Sua filha,

Claire"


"Querida mamãe,

Amanhã é meu aniversario. Não acredito que já vou fazer 17 anos! O papai e o James (ele é meu namorado agora – você se lembra do James, da escola?) estão planejando alguma surpresa, mas tenho que fingir que não sei de nada. Vou tentar parecer surpresa.

Tinha ficado com a chave da casa, esperando o momento certo. Hoje estava sentada à margem do rio onde costumávamos caminhar, e, de repente, me dei conta do que deveria fazer com ela. Atirei-a longe, com toda a força. Ela cintilou à luz do sol, depois caiu na água e sumiu. Eu me senti bem, mãe, pela primeira vez em muito tempo, eu me senti bem. Sentada à margem do rio, parecia que podia ouvir sua voz no vento, dizendo que você estava bem.

Um dia vou dobrar esse bilhete e vou colocá-lo no rio. Mas por enquanto vou mantê-lo junto a mim.

Eu te amo,

Claire"

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso.
Ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice, uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser, um toque de intuição e um tom de doçura.
Ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude, uma solidão de artista e um ar sensato de cientista. 
Ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo.
Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. 
Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna."

(Paula Fernandes)