sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Do silêncio

O que você achou do último do Woody Allen? Ei, conta uma piada aí pra galera? Qual cor fica melhor, hein? Coloca uma musiquinha aí pra dar uma animada!

Não sei bem quando aconteceu, mas ficamos viciados em barulho. O silêncio se tornou um insuportável sinônimo de vazio, de falta e estamos sempre esperando por um comentário, uma opinião, qualquer ruído com um pouquinho de significado – ou não – para preencher uma lacuna que nos intimida e nos deixa constrangidos.

Será medo de pensarem que não temos nada de produtivo a acrescentar? Receio de acharem que a gente é bobo ou até mesmo meio burro?
É que o silêncio pressupõe uma intimidade que para muitos pode parecer assustadora e prescindir das palavras é revelar-se em completa nudez. A gente se sabe confortável e íntimo de alguém quando não tem necessidade de preencher os silêncios e descobre que eles fazem parte da conversa, da amizade, do cortejo. É quando nos damos conta de que a falta de barulhos não é constrangedora, mas confortável e bastante convidativa.

Silenciar é dar descanso aos ouvidos e colocar os olhos para trabalhar. Deixar que eles passeiem e tomem conta do assunto, que coloquem a conversa em dia e que, numa fração de segundo, trabalhem o que as cordas vocais não deram conta em horas e horas.
Olhos nos olhos, quero ver o que você me diz sem pronunciar uma única sílaba. Aí é que está o grande desafio.

Augusto Paz.

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