quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Quando o amor anda sozinho…

…E quando o amor precisa de nós


Por um tempo o amor funciona por si só, naquela fase em que os passionais pombinhos MC´s tocam de ouvido o chacoalhante rhythm and blues das coincidências –a gente curte os mesmos livros, os mesmos discos, os mesmos filmes do Kubrick, todo mundo ama Nina Simone bêbado na madruga e somos felizes, naquela manhã, para sempre.

É um tempo assim Galileo Galilei, pura gala, e pur si muove, como a terra.
É simples: por um tempo o amor funciona por si só, dita o ritmo, a prova dos 9, o gabarito, e o free style do jazz é todo certo mesmo quando todo errado e seguimos. Mesmo quando apenas repete o batuque zumbi das nossas neuroses ainda em compasso pianinho das sístoles & diástoles.

Por um tempo o amor funciona por si só e pisamos no pé um do outro, no dois pra lá dois pra cá, por puro charme, somente para revelar um certo desatino –afinal de contas quem vai acreditar em um amor assim todo ensaio de orquestra, meu velho?

O amor por si só, assim como o “quizas quizas quizas” do bolero ou a paradinha certeira do cha-cha-cha, se gasta, gracias, ainda bem, foi bonito, agora vem a cumbia da devoção ou o brega do merecimento.

Mas todo cuidado é pouco: ridículo fazer desse tempo do amor “por si se move” um apocalipse precoce, como alguém que conheço, que sempre se martiriza e põe tudo a perder de novo: “Isso não pode estar acontecendo comigo, isso é uma farsa, será um desastre”.
E, descrente, sai em desabalada carreira de cada homem.

Por não viver o por si só do amor, neguinha(o), descrente, sarta fora. Aí não vive nem isso nem aquilo. Mal sabe o que vai perder logo adiante: a transição para um amor possivelmente conduzido por nós, um amor que precisará de algumas coisas leves e de alguns dos 12 mitológicos trabalhos de Hércules, um amor que não anda mais com seus próprios pés.

Prefiro. Bom mesmo é quando falta a gasolina azul do amor por si só  e temos que inventar novos combustíveis e fazer das duas rodas dos óculos os pneus das nossas imaginárias bicicletas.
Como ainda estou em uma fase do luto Lou Reed, é obrigatório, por exemplo, nessa fase de transição, beber sangria no parque, como ele canta na faixa “Perfec day”. Escute e me diga.
Pode ser no quintal de casa, na varanda, na pia da kitinete, pode ser vinho jurubeba com maçã da Mônica que sobrou da sua filha, o importante é fazer uma graça com a moça.

Pode ser também num restaurante espanhol de San Pablo, tarde de domingo, sua alma como touro imbatível que avança sobre todas as coisas vermelhas do universo. Você se acha e isso é teu breve triunfo sobre a velha da foice.Vale.

O importante é não deixar o amor a pé, entre o que ele achava que seria e o que ele acha que já é.
É preciso sacar de mobilidade amorosa, fazer dos dois aros dos seus óculos as rodas de uma imaginária bicicleta, é preciso botar o amor nas costas, pobrezinho agora carece de você, como um sleep-bag precisa do sonho de um hippie para se sentir inaugurado pelo universo.

Pegue um ônibus, compre um pacote barato, faça alguma coisa, viaje com o bofe ou com a mina, o amor gosta de sair do canto, nem que seja para espantar borrachudos na pele um do outro em uma praia chuvosa.


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