segunda-feira, 25 de junho de 2012

Shakspeare ou Severino, tanto faz...


Roger Chartier, grande mestre da história da leitura, e de quem eu me tornei fã, disse que esquecemos e esqueceremos nossas leituras e aprendizagens por estarem apoiadas nessa coisa tão passageira, frágil e vadia que é a nossa memória. Mas ele também diz que, opostamente a isso, está a escrita, que acumula, estoca, registra e resiste ao tempo.
Baseando-me em Chartier, apresento este trabalho que tem por finalidade maior não esquecer coisas que estão na minha memória, passando-as então para esse arquivo, para esse novo “local de memória”, que é a folha cybernética na qual eu agora escrevo.
Ontem eu reli umas “aprendizagens” que, segundo dizem, foram de Shakespeare. Será? Não sei. Mas mesmo que não tenha sido ele, com certeza foi outra pessoa, e se pelo menos uma pessoa aprendeu realmente o que foi dito, então ela ganhou uma vida nova.
Eu também ganhei vida nova esses dias [um viva pra mim, por favor?]; me libertei de uma prisão que eu sempre soube que existia, mas que eu achava que era necessária para poder ser uma “boa moça”. Besteira. E uma primeira coisa que posso dizer que aprendi [ou que compreendi] é que aprisionei pessoas junto comigo, porque para elas chegarem até mim, teriam de entrar na minha... jaula? Ok. Sem muito drama.
Por falar em drama, posso dizer algumas coisas que aprendi sobre drama. Parece que ele faz sentido em alguns momentos da nossa vida, quando sofremos principalmente, e que é uma maldade muito grande exigir que as pessoas engulam seu choro e vivam como se nada tivesse acontecido com elas. Mas... eu aprendi também que os problemas que geram nossos dramas tem exatamente o tamanho, a profundidade e a largura que damos a eles. Às vezes, ou sempre – para muitas pessoas – nos concentramos tanto num problema, olhamos tanto para ele que parece que ficamos hipnotizados; nossa visão fica turva e tudo começa a parecer maior do que realmente é. E parece bobo e óbvio o que vou dizer, mas um problema vai ser sempre um problema, enquanto só o tratarmos como problema.
Ainda dentro do contexto drama, me reporto ao meu maior drama, e que exatamente por ele ser MAIOR e MEU, é que tenho autoridade e autonomia para falar dele [talvez não tanto sobre ele.. ainda estarei sempre aprendendo]. Eu era quase a Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque. Cresci e me apoiei no medo para fazer quase tudo nessa minha vida. Descobri que o medo suga nossas forças, tira a nossa alegria, o nosso vigor, amarela nosso sorriso, afrouxa nosso abraço, descompassa nossa caminhada. Por causa do medo, a gente sente [do verbo sentimento] estranho e até errado. O medo atrasa nossa vida, nos impede de tentar, e quando conseguimos uma forcinha para arriscarmos alguma coisa, estamos tão cheios de medo, que acaba dando tudo errado, mesmo com todo o desejo do nosso coração de que aquilo dê certo. Se nós temos medo de machucar uma pessoa, então iremos machucá-la. Se temos medo de errar com ela, provavelmente é o que vai acontecer; se temos medo de amar, ficaremos perdidamente apaixonados; se não queremos que ela descubra nossos defeitos, ela os descobrirá antes mesmo da maioria de nossas qualidades.
 E mais do que isso e do que os outros, se a gente tem medo de tentar, de arriscar, de dar nossa cara a tapa, de ser o que deveríamos ter sido se o medo não nos impedisse, a gente atrasa a nossa vida e, em muitos casos, para de viver. O medo rouba nós de nós mesmos, acaba com nossa personalidade, nosso lugar no mundo. Se a gente não parar de ter medo de se envolver com medo de sofrer, com certeza jamais teremos o que dizer para nossa posteridade, no final da nossa vida – se é que iremos chegar lá, com tanto medo de viver[Jabor mexeu comigo]. Aprendi que quebrar a cara, chorar, sofrer, rir, se divertir, amar – e deixar ser amado, o que para muitos, dentre os quais, eu mesma, é até mais difícil... tudo isso, faz parte da vida.
Uma vez eu acreditei que se uma pessoa realmente me amasse, ela não me faria sofrer, e nem eu a ela. Acreditei que era só um e outro tentar ser perfeito e agir com a máxima perfeição que ninguém se machucaria e todos seriam felizes para sempre. Uma vez eu acreditei que o “felizes para sempre” era a mesma coisa que “felizes sempre”. Contos de fadas são verdadeiras armadilhas sentimentais e linguísticas.
Uma vez me ensinaram que amor não era só um sentimento, mas mais do que isso, era uma prática. Pelamordedeus, eu sou nova e boba ainda, e um dia posso contradizer o que digo agora, mas acho que o verdadeiro amor se descobre em nós quando choramos e sofremos por alguém. E se uma pessoa não está disposta a passar por isso, então ela não vai descobrir nunca o que é amar, pelo menos não profundamente [nota: sempre achei a palavra profunda muito profunda, mas profundamente é muito pior.. sinto que me perco nela].
Não sustento aqui que amor e sofrimento são a mesma coisa, mas que um sem o outro não são plenos. “Não há nada que nos faça amar mais uma pessoa quanto orar por ela”. E como isso é verdade.
Aprendi também que a religião não define caráter. Na verdade, esse negócio de religião é um beco sem saída. A gente se martiriza por não trabalhar em algo na igreja, não porque aquilo faz diferença para nós, mas porque faz diferença para nós não sermos como todos os outros. Igreja é um lugar de vaidade. Assim como todo o resto do mundo. Acredito que igreja é um lugar de salvação sim, deusquemelivre de desejar o fim deste lugar, mas não posso omitir que igreja pode ser um lugar onde muita gente se perde. E as pessoas não se perdem porque não são eleitas, não – salve, presbiterianos! – mas porque não cuidamos delas, pensando em nós mesmos e na nossa imagem. Todos queremos ser líderes; os mais responsáveis, os mais bem quistos, mais bem vistos, os mais bem vestidos – e isso muitas vezes é o mais importante -, os chamados, os da banda, os cantores, os dançarinos, os populares, os amigos do pastor... e os que visitam só querem saber o que está acontecendo. Não estou ressentida com a instituição IGREJA, mas estou ressentida que em nome de toda essa vaidade e ideais mesquinhos, ela tenha me mostrado um Deus que não existia. Um Deus que dizia – ou parecia dizer –, paradoxalmente, que não eram as minhas obras que me salvariam, mas que eu estaria perdida sem elas. Que me falava de graça com exemplos de lei. Que me ensinou a julgar aqueles pecadores dos dançarinos, dos batedores de palmas, dos bateristas, guitarristas, baixistas e muitos outros pobres istas que só queriam adorar de uma forma mais alegre pra um Deus tão severo, que jamais sorriria ao receber nossos louvores; apenas diria: “tá bonzinho, mas ainda não está perfeito”. Estou ressentida porque me ensinaram que eu deveria buscar a perfeição a todo o custo, mesmo que isso me custasse tudo. Me custou muita coisa sim. Mas o Deus que nunca sorria, sorriu um dia pra mim, me acordou do hipnotismo e eu caí nos seus braços sem força, meio desacordada, sem entender o que estava acontecendo. Então, como eu disse, ele sorriu pra mim e disse: “está tudo bem agora.. pronto.. passou..”. E alisou minha cabeça e me abraçou forte e me pôs de pé e disse que cuidaria de mim pessoalmente a partir dali [obrigada, Senhor pela vida do pastor Roy que foi usado naquele dia]. Talvez, eles nunca descubram isso. Mas eu espero que sim.
Eu disse que aprendi. Mas talvez seja melhor dizer que ainda estou aprendendo. Isso pode levar uma vida inteira. E espero realmente que dure, porque parar de aprender é parar de viver. Quero ser diferente, e quero ser melhor. Mas é impossível se tornar uma pessoa melhor se não tivermos sido as piores primeiro.
Confesso que ainda tenho medo, e que, provavelmente, ele vai estar presente sempre. Longedemim querer me tornar a mulher maravilha, a super mulher, a rainha dos baixinhos, casar com o Ken [eu sempre quis ter um, mas ele não faz mais meu tipo]. Mas a diferença entre “ter medo” e “ter medo”, que não parece nenhuma, é que no primeiro, ou no segundo, tant pis, você o tem, mas o domina e o utiliza para o bem [como, exatamente, eu ainda não sei, mas se eu não morrer até lá, escrevo um livro sobre isso] e não permite que ele te impeça de arriscar. O medo nos diz que podemos sofrer se arriscarmos. É lógico! Todo tipo de risco tem conseqüências, mas deixar de tentar por medo... eunãodigomaisénadasobreissodescubravocêsozinho...
Tenho aprendido também que amor é uma coisa rara. Hoje as pessoas estão ocupadas e preocupadas demais consigo mesmas para perder tempo com esse negócio falido. É melhor comprar um presente que resolve tudo, não é? No Natal a gente fala de amor, afinal, estamos todos de férias, sem nada mais importante pra fazer, então dá pra fazer uma reuniãozinha, chamar alguns parentes, fazer algumas orações, trocar presentes, comer até se fartar e depois dormir, e esperar mais 365 dias para a próxima demonstração de amor.
Hoje o amor é DESCARTÁVEL. Estragou? Arruma um novo.
Não deu certo com aquele(a)? Vai aparecer outro, afinal, tem tanto homem no mundo... É muito mais fácil esquecer, do que insistir no que se acredita.
Muita gente acha que o que vai contra o amor é o ódio. Não penso assim. Pra mim, é a INDIFERENÇA. Quando sentimos ou demonstramos ódio por alguém, pelo menos estamos demonstrando e sentido algo por alguém. Mas quando somos indiferentes... não há nada que possa machucar mais uma pessoa do que ignorá-la, fingir que ela não existe, que ela não está ali, que ela não falou com você, por isso você não precisa responder. Isso pode magoar tanto que pode haver causas irreversíveis.

Obrigada Shakespeare, ou Severino, ou Juliana.... seja lá quem tiver escrito aquilo...

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