quinta-feira, 8 de maio de 2008

Coração de Letras

Gosto de nomes. De títulos. Ou sei lá quais os outros nomes ou títulos que se dá a títulos e nomes...
Acho interessante passar horas pensando naquilo que será o coração de alguma coisa. Porque para mim, títulos são corações. Se eles não são bons, o corpo pode até funcionar, mas, com certeza, não será a mesma coisa.
Me encontro por inúmeras vezes parada na frente da televisão, absorta, olhando pra tela e não vendo nada, apenas tentando imaginar qual o motivo do nome daquela novela ser escolhido para ser o nome da novela. A propósito, odeio títulos de novelas.
Gosto de ir a livrarias. Ando tempos e tempos circulando por elas. Só lendo títulos. A história, às vezes, é o que menos interessa. Porque as histórias eu mesma monto segundo os títulos que leio. O que seria de mim sem a imaginação. Provavelmente eu nem seja boa em escrever histórias, e também ninguém me julgará por elas, porque possivelmente nunca venha a escrevê-las. Até porque depois do terceiro título já esqueci as histórias anteriores.
Já me vi decepcionada com histórias. Títulos tão bons, histórias tão previsíveis. Ou o contrário, histórias boas e títulos ruins.
Toda vez que pego um livro para ler, fico pelo menos uns cinco a dez minutos lendo e relendo o nome do livro. Vou para a folha de rosto e leio mais uma vez o título. Leio o primeiro capítulo e fecho o livro para ler o nome mais uma vez. Às vezes, no meio do capítulo, paro a leitura para reler o nome do livro e saber se o que estou lendo tem a ver com o que acabei ler na capa do livro.
Acho que sou maníaca por títulos. Acho que tenho certeza.
Lendo Balzac e a Costureirinha Chinesa, de Dai Sijie, vi que o personagem principal não tinha nome. Depois de ler alguns capítulos, não suportei e tive que dar um nome para ele. Era caso de nome ou morte. Sérgio. Chamei-o Sérgio. Não me pergunte por quê. Na verdade, nem eu mesma sei. E pior que isso, tive de apresentar um seminário numa aula de pós-graduação sobre esse livro. Depois de dez minutos falando sobre o protagonista, não agüentei e pedi licença aos ouvintes para chamá-lo pelo nome que eu havia dado a ele. Me senti tão aliviada. Interessante foi a discussão dos outros alunos para entender a nomeação do personagem. Uma aluna até se levantou em meu favor dizendo para os demais: “Gente, ela quis chamar ele de Sérgio, então deixa ele ser Sérgio. Ele deve ter cara de Sérgio mesmo”...
Uma das minhas maiores decepções foi ter estudado Saussure e ver que os signos são arbitrários. É tão estranho uma árvore se chamar árvore porque... sim. Mas acho que é assim mesmo. Fico pensando se todas as pessoas fossem como eu. Se para cada nome que dessem a alguma coisa levassem tanto tempo, e mais tempo ainda para refletir se o nome dado é o apropriado. Possivelmente ainda estaríamos no Jardim do Éden, esperando Adão terminar de nomear os passarinhos.

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